sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Sobre renascimento, reencarnação outras hipóteses

Assistindo minha mãe no que no Budismo é chamado o bardo do morrer , muitas questões chegam e as respostas (hipotéticas) ficam bem vagas; mas faz parte da nossa missão continuar buscando o entendimento mas....sempre com o cuidado que não existem verdades absolutas além daquela que TUDO MUDA e ESTÁ MUDANDO O TEMPO TODO. Reencarnação, renascimento são termos algumas sutis diferenças; e, assim como karma, continuum mental e vacuidade, são temas delicados e difíceis de explicar e compreender com poucas palavras. Lendo “O monge e o filósofo”o Budismo hoje do monge Matthieu Ricard encontrei trechos interessantes que compartilho com você: .................... No Budismo o que se chama de reencarnação não tem nada a ver com transmigração de uma ‘entidade’ qualquer , nada a ver com metempsicose. Enquanto se raciocinar em termos de entidades e não de função , de continuidade, o conceito budista de renascimento não poderá ser compreendido. ....Não existe identidade de uma ‘pessoa’ através de renascimentos sucessivos, mas condicionamento de um fluxo de consciência. ......................... O Budismo fala de estados sucessivos de existência: nem tudo se limita à vida presente. Antes do nascimento atual, conhecemos outros estados de existência e após a morte conhecermos outros mais. .................. Por ouro lado, uma vez que o Budismo nega a existência de um ‘eu’ individual concebido como uma entidade separada que transmigraria de existência em existência e passaria de corpo para corpo, podemos nos perguntar o que é que liga esses estados sucessivos de existência. Trata-se do continuum, um fluxo de consciência que se perpetua, sem que exista uma entidade fixa e autônoma que o percorra. Pode-se compara isso a um rio sem nenhuma barca que desce seu curso ou à chama de uma lamparina que acende uma segunda lamparina, a qual acende uma terceira e assim por diante: no fim desta cadeia, a chama não é a mesma nem diferente. ............................ Nós nos apegamos à noção de um “ eu”, de nossa pessoa, meu corpo, meu nome, meu espírito etc O Budismo fala de um continuum de consciência mas nega a existência de um ‘eu’ sólido, permanente e autônomo no seio desse continuum. A essência da pratica do budismo é dissipar a ilusão de um ‘eu’ que falseia nossa visão de mundo. ................................ Assim tomando a ideia do continuum mental como um rio , é concebível que se possa reconhecer esse um curso d’água centenas de kilometros abaixo do primeiro ponto de observação, examinando a natureza dos aluviões, minerais, vegetais, etc que ele transporta. ................. Em relação à ideia de renascimento como a noção impessoal de rio que circula de indivíduo para indivíduo, que sejam esses indivíduos seres humanos ou animais Matthieu responde: Pode-se falar de ‘consciência individual’ mesmo que o individuo não exista como entidade isolada. Porque a ausência de transferência de uma entidade descontínua não se opõe à continuação de uma função**. O fato de o ‘eu’ não ter existência própria não impede que um fluxo de consciência particular tenha qualidades que o distingam de um outro. O fato de não existir uma barca flutuando no rio não o impede de estar carregado de sedimentos, poluído por uma fábrica de papel ou então claro e límpido. O estado do rio em um dado momento é a imagem, o resultado de sua história. De igual modo, os fluxos individuais de consciência estão carregados do resultado dos pensamentos positivos ou negativos, assim como das marcas deixadas nas consciência pelos atos e palavras originados desses pensamentos. O objetivo da pratica espiritual é purificar esse rio pouco a pouco. O estado último da limpidez é aquilo que se chama de realização espiritual. Todas as emoções negativas, todos os véus que mascaram o conhecimento são então dissolvidos. Não se trata de aniquilar o ‘eu’, o qual nunca existiu de verdade, mas simplesmente de desmascarar a impostura dele. ( esse ‘eu’ é uma criação, uma entidade mental, condicionada, pai dos medos e ilusões) ........................... O ‘eu’ não possui origem nem fim, e conseqüentemente, não tem outra existência no presente senão aquela que a mente lhe atribui. Em uma palavra, o nirvana não é uma extinção, mas o conhecimento final da natureza das coisas. ** o termo função por definição matemática está ligado à ideia de relacionamento, relações, união de origens, meios e fins – entendo por função no conceito de interdependência como se nossa consciência, o continuum mental fosse um fio entre infinitos do bordado que se misturam entre si, se dissolvem no desenho e se transformam no tecido – fazem parte da construção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário