sexta-feira, 25 de julho de 2014

A magia da purificação

É um tema que atrai; por que será? Acreditamos que somos errados, que somos impuros...qual a real motivação para origina a vontade de participar de rituais de limpeza? Seria o medo de ser castigado pelos enganos? ...estar ameaçado pela fragilidade humana? ...seriam nossas imperfeições “os pecados” que tornam os inimigos invisíveis? ...seríamos tão coitados que nos deixamos seduzir rapidamente pelas purificações....? ...será que os rituais propiciatórios - purificar para garantir sucessos – crenças mágicas? Mas...mágica e milagres são apenas os nomes que damos para resultados que não compreendemos. Bem...Purificação na filosofia Budista é o processo ( meditação) que desenvolvendo a concentração – sem conotação religiosa ou moral – resulta num processo de relaxamento do corpo e da mente diferente do que entende a psicologia ocidental. Como explica o mestre budista Jack Kornfield em seu livro “Psicologia do amor”: “a purificação significa a libertação da tensão, conflitos, distração, tristeza e ansiedade. A maneira mais fácil de entender isso é tentar manter firma a concentração por apenas 10 minutos;...dirigir a atenção para se concentrar na respiração ou numa imagem inspiradora. ...quando tentamos nos concentrar na meditação, nossos pensamentos, conflitos, planos e questões emocionais pendentes irão interferir. A purificação vem da libertação deliberada de cada uma dessas distrações até que a mente se estabilize e se acalme, satisfeita e firme.” O processo de reconhecimento das distrações, pode não ser imediato mas à medida que treinamos esse tipo de meditação nos sentimos libertos de seus domínios – purificados, ou seja, mais imperturbáveis. Nesse processo de estabilização “sentimos” uma luz interna libertadora que devolve a estabilidade e a desobstrução dos caminhos e de uma melhor compreensão dos mistérios da vida em estados profundos de silêncio, uma serenidade imperturbável. Completa Jack Kornfield: “A concentração é um passo poderoso na jornada, um modo importante de aquietar a mente, abrir o coração e descobrir a liberdade.” Diz Chagdu Tulku Rinpoche em seu importante livro “Portões da Pratica Budista”:”purificar o carma por meio de prática espiritual não exige que deixemos para trás nossa vida mundana. Antes, ao integrar a prática de nossas atividades do cotidiano, repousando na verdadeira natureza da mente, podemos purificar todo nosso carma acumulado, em uma só vida”.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Saudade de quê?

Saudade é uma palavra que sugere um montão de lembranças, na maioria das vezes ( não me lembro de nenhuma vez que foi diferente) melancólicas. Penso sobre isso porque ouvi o violonista Yamandú Costa definir: saudade é uma dor que se acomoda. Decidi fazer uma lista das minhas saudades para entendê-las porque uma dor que se acomoda está prontinha para ser despertada....perigo à vista. Bem...sinto saudades de coisas boas , como se fossem lembranças emolduradas. Porque se forem saudades de coisas tristes não são saudades, são remorsos, contrariedades, carências, insatisfações etc. Na minha lista foram aparecendo: Saudades da luz e da paz de Campos do Jordão Saudades da comida da minha avó espanhola Saudades da inteligência curiosa da minha avó portuguesa Saudades das travessuras que fazia com meu avô Saudades do silêncio do claustro do colégio em que me criei Saudades da consideração que recebi de Mestres queridos ................ Agora, Você continua a tua lista! Ops...veja e observe se concorda comigo: parece que todas essas saudades foram situações com pessoas, lugares e descobertas em que a nossa verdadeira natureza livre, pacífica e alegre se manifestava. Então, saudade não precisa ser dolorida; ao contrario ela é o sinal de como, onde e com que tipo de pessoa nossa verdadeira natureza se manifesta. Revisitar saudades pode se transformar num exercício divertido para revisitar os lugares onde nossa luz brilhou e ser uma dica de como reacende-la quando se apagar: transformar a dor no peito que prende a alegria numa ausência serena e inspiradora. Porque afinal....nossa preciosa vida é agora.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Dificil se defender

No susto com o final do sonho (????) do hexa brasileiro me lembrei das vezes que eu também cai em “roubadas”. Foi por ignorância? Com certeza! Foi por ingenuidade? Com certeza também. Sabe porque lembrei dessas “escorregadas”? Foi porque não tive a capacidade me defender, na prepotência de acreditar que iria mudar a situação, da falta de visão, da falta de humildade de reconhecer que o “inimigo” era mais forte...enfrentei e me danei. Só não me machuquei mais porque acredito que fui “protegida” pelas energias universais que se apiedaram da minha ingenuidade, ou foi por sorte mesmo. Porque.... ingenuidade é burrice, é falta de lucidez, é infantilidade. Quando a França levou o primeiro gol da Alemanha, ela percebeu seu tamanho e o que estava por vir, se trancou e evitou a humilhação de mais outros tantos gols. Brasil levou o primeiro, o segundo e... resolveu vencer o inimigo....total “sem noção do perigo”. O dia que reconheci na minha história a menina, a adolescente, a jovem e a mulher desprotegidas que fui... correndo riscos, viajando na solidão dos sonhos de felicidade, das promessas ilusórias...num exercício de auto-bondade consegui trocar as culpas por uma profunda compaixão. E é com essa compaixão que hoje olho para quem também está nessa “viagem” iludida. Essa capacidade de se defender para evitar o pior não é uma visão pessimista, é uma visão amadurecida e realista. Chega de romantismo ! chega de acreditar que as vacas podem voar! Aprender a se defender e como se defender com inteligência e autorrespeito é uma arte. Se o inimigo é mais forte, reconheça, recue e pense numa nova rota, numa nova abordagem ou aprenda a entregar o troféu para o inimigo; ....às vezes é preciso.... Jogos são apenas jogos, sem drama!!!! Mas nossa integridade moral e física faz parte de construir e manter nossa vida preciosa!

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Mudanças....tapetes desfeitos

Chegou o momento de desfazer o apartamento de minha mãe...uma parte para cá, outra para lá, descobertas, duvidas, caixas e caixas, leilões....divisões....doações....prazos terminando. Fico olhando o tapete da sala, e retornam as memórias afetivas, algumas nem tanto... Tapete tão pisado nas comemorações, nos encontros e desencontros, chegadas e partidas, expectativas e sustos – ainda bem que não fala; bem...pelo menos... não escuto nada. Agora apenas um tapete solitário que será comprado por outra pessoa que se afeiçoará por ele da mesma forma que um dia seduziu minha mãe e será pisado em outra casa. Um grande tapete florido rosa de seda que uma família, no longínquo oriente, teceu durante meses ...fio por fio, nó por nó. Fico olhando o tapete da sala e pensando que as memórias guardadas em milhares de fios também se dissolverão da mesma forma que, se os fios começassem a se soltar, seria apenas um amontoado de linhas coloridas e não guardaria nem de longe a memória da beleza deste tapete. Fico olhando o tapete sendo enrolado...os moveis vão sendo levados e a impressão que dá é a mesma do tapete sendo desfeito; não é apenas uma mudança, é um lar que está se dissolvendo, que cumpriu sua história. Agora essa casa será palco de outras histórias. Esses moveis servirão outros amores , outras crianças, outros avós e outras festas. Assim sou eu, assim é você, assim é tudo e todos: partes juntas que se forem separadas não são o todo. Todos e tudo surgem, fazem história, se desfazem na leveza do tempo e aparecem de outro jeito – a cada dia, a cada ano a cada vida – apenas não percebemos de forma tão nítida. É a beleza da possibilidade da mudança, que só a impermanência pode nos presentear: a possibilidade da renovação. O lugar onde todos esses movimentos, positivos, indiferente ou negativos, acontecem e são acolhidos é o ESPAÇO: o único lugar permanente, o ETERNO ABSOLUTO, o Silencioso Campo Primordial – ou se for mais fácil para compreender....DEUS.