sábado, 25 de janeiro de 2014

Lidando com a emoção da raiva

Seguindo com o cuidado das emoções aflitivas, as delusões que são venenos mentais, agora é a vez da raiva. Comumente não sentimos raiva de uma determinada pessoa ou de uma situação; a raiva tem sempre um alvo - sentimos raiva de algo que ela nos fez , de uma determinada atitude ou acontecimento: tinha que ser do meu jeito. É pessoal. Quando sentimos raiva estamos apegados às nossas crenças pessoais. O tempo esquentou e sinto raiva porque estou sentindo muito calor; mas...para quem quer pegar uma cor na praia, é ótimo. Então ...não é a situação que está errada; simplesmente ela não concorda com a minha vontade! São objetos de raiva que causam as contrariedades. Se o medo nos joga para o futuro, a raiva nos leva para o passado: não temos medo do passado, temos medo que algo se repita no futuro; não sentimos raiva do futuro, temos raiva de não soltar algo do passado. Existe a raiva quente – quando a colocamos para fora, no ataque. Existe a raiva fria – quando engolimos, “levamos para casa”. A questão não é não sentir raiva, é como expressa-la. Descolar uma raiva é liberar-se do passado para aproveitar a energia no momento presente. Ao sentir raiva, se aborrecer, contrariar-se colocamos poder no objeto de raiva e tiramos poder de nós. Deixamos essa pessoa, essa situação, essa frustração roubar nosso poder pessoal. É humano sentir raiva no momento; o que é desumano é carregar horas, dias, meses e talvez... anos. Além de carregar as raivas, compartilhamos as histórias e recontamos e relembramos e resofremos. SS Dalai Lama, na sua última visita ao Brasil quando perguntado por um garoto se ele não sentia raiva quando seu irmão o contrariava, confirmou com firmeza e acrescentou: mas não deixava colar. Por que às vezes, já acordamos irritados ???? De onde será que vêem essas sensações de irritação???? Onde, por que e para que nascem????? Uma sugestão de Lama Michel Rinpoche: “ nunca diga a alguém que está com raiva para não sentir raiva – ela ficará possessa... O mais adequado é aguardar que a serenidade retorne para conversar sobre o ocorrido. Existe um passo-a-passo para dissolver a raiva sobre o que alguém nos fez, ou que nós mesmos fizemos ou sobre uma situação: Pena – reconhecer que o outro(ou eu) não está bem para ter feito aquilo Tolerância – aguardar um tempo Paciência – aguardar sem hora marcada para terminar Compaixão – compreensão sobre a origem do comportamento Perdão – não é esquecer, é soltar a história Amor incondicional – aceitação amorosa A cada passo, as fronteiras se rompem até que sumam. Como se fossemos passando a fases de um joginho. Nos textos desta semana,”métodos anti-raivas” e “ sensação de irritação” há outras sugestões. Para receber os textoa escreva para artesdecura@netguest.com

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Medo - a "mãe" das emoções aflitivas

O que me atraiu para estudar o Budismo foi, principalmente, na convivência com os Lamas e Rinpoches, como eles vivem desarmados em seus medos e fragilidades na auto-confiança sem vaidade e na coragem sem orgulho. O aspecto controlador da personalidade é exatamente a tentativa de se defender contra os medos. Nascemos com 2 medos: o medo da queda e o medo do estrondo: nos 2 casos o bebê chora e para em seguida; chora de susto. Os outros medos vão sendo aprendidos através das interações com as pessoas e com meio: são medos condicionados. É possível também, na hipótese budista, que alguns medos sejam marcas mentais (carmicas) deixadas na mente sutil em experiências passadas. Os medos surgem com os sustos: há o susto e depois... o medo de reviver a situação traumática vivida. Os medos são aprendidos, portanto, podemos ser retreinados, fazer surgir a valentia para supera-los e para dissolver o medo de sentir os medos que vivem em nós, aceitar e acolher para “trata-los”. As ações racionalizadas ajudam a não ter medo de sentir medo. A família do Medo é ampla. O Medo é a “mãe” das aflições, das emoções aflitivas, das angustias, dos sofrimentos e das escolhas equivocadas. Temos a falsa sensação que as estratégias de controle para lidar com os medos vão eliminar a fragilidade que sentimos da vida; mas....é um engano. Basicamente o Medo é a origem das 5 principais emoções aflitivas, o alvo da psicologia budista: inveja, orgulho, raiva, desejo/apego, ignorância. Dissolve-los, faz despertar as inteligências ( sabedorias) respectivas de: capacidade de agir, naturalidade generosa, compaixão lúcida, solidariedade, transcendência para a paz. A família do Medo é grande e, só com a compreensão da origem de cada tipo de medo é possível tirar seu o poder. Cada tipo de medo tem um “órgão e uma vícera de choque”, que “atrapalha” a produção dos hormônios nas glândulas comprometendo as sinopses neurológicas e, consequentemente, descontrolando os comandos de atitudes. Resumindo: para mudar atitudes é preciso, principalmente, mudar os pensamentos e as emoções. Os diferentes as aspectos do medo estão interligados; é até difícil descobrir onde começam e como vão se ligando aos outros. Abaixo coloco uma tabela resumida, mas o “tratamento” muitas vezes requer um caminho mais profundo e ajuda para identificar os lados escondidos e sombrios dos medos. Os medos muitas vezes disfarçam sua origem – como se fossem “primarios ocultos”. *Medo do futuro nos dá preocupações,ansiedade, ambição desmedida, paranóia, ganância, ambição desmedida, avareza, inveja ( sentir-se incompetente),comportamentos ameaçadores, desconfianças, etc ( tudo que nos lança para uma hipótese futura). Provavelmente esse medo é um dos responsáveis pela pressão alta. No caminho do meio, esse medo é transformado com a prudência calma, com ações, com a coragem, persistência e.... humildade para pedir ajuda quando necessário e MEDITAÇÃO SILENCIOSA, treino constante para evitar as respostas automáticas. *Medo de perder nossas crenças, nossas certezas acabam nas raivas, intolerâncias, frustrações, decepções, agressividade “para fora”( raiva quente), agressividade “engolida” ( raiva fria), vinganças etc Esse medo sempre nos remete para fatos do passado. Provavelmente esse é o medo que causa depressão, as doenças ligadas ao fígado e vesícula biliar. No caminho do meio, esse medo é dissolvido com compreensão, paciência, depois com tolerância até chegar na aceitação. Aceitar não significa concordar. E...MEDITAÇÃO SILENCIOSA, treino constante para evitar as respostas automáticas. *Medo de perder a importância, o orgulho de não aparecer imperfeito, apego a si mesmo, à própria imagem, que gera culpas, vergonhas, vaidades, mentiras, tentativas de confundir a opinião do outro. Acontece que... a tentativa de confundir a opinião dos outros uma hora é descoberta e acabamos por atrair exatamente o que se queria evitar: ser uma pessoa não confiável. Esse medo é aquele que cria disfarces, exageros, rótulos ( bonzinho, rebelde etc) e estratégias manipuladoras. Provavelmente esse é o medo que causa os problemas gastrintestinais, aumento do abdômen etc. No caminho do meio esse aspecto “ mentiroso” se dissolve com a humildade da naturalidade: somos apenas quem somos;a verdade pode ser o caminho mais difícil mas é o único que organiza. e... MEDITAÇÃO SILENCIOSA, treino constante para evitar as respostas automáticas. *Medo de ser livre, medo da autonomia, da perder a segurança, de se responsabilizar por nossos atos, visão estreita, medo das criticas etc; esse medo gera todos os tipos de submissão e preconceitos: dependência à pessoas, a grupos, a todos os tipos de vícios ( bengalas psicológicas que aparentemente aliviam a tensão e a frustração das mais simples como pequenos hábitos necessários consumistas até graves neuroses). Provavelmente esse é o medo que causa dos distúrbios psicológicos e doenças do coração. Esse medo é aquele que nos sentirmos sob a proteção de alguém, ou algo,dá a falsa sensação de proteção. No caminho do meio esse medo de soltar as “bengalas” é dissolvido pelo auto-conhecimento, pela auto-valorização e pela recuperação de seu próprio poder pessoal enquanto ser humano a ser respeitado. Aprender a se respeitar e ouvir as “opiniões alheias” como apenas opiniões é libertador. Mais libertador ainda é aprender a se equilibrar na insegurança, se apoiando nas próprias pernas. e.... MEDITAÇÃO SILENCIOSA, treino constante para evitar as respostas automáticas. *Medo de sentir-se só gera o ciúmes, o desejo ilimitado, insatisfação, os apegos a pessoas e essa possessividade deforma nossa visão da realidade, criando fantasmas de todos os tipos e criando as armadilhas do auto-engano, da preguiça e dos mimos. Esse aspecto é, provavelmente, a causa das disfunções alimentares, tipo obesidade, anorexia, diabetes, dificuldades de comunicação, da fala, na área da garganta etc Esse é o medo que cria fronteiras, que julga melhor ou pior, os meus e os teus etc. meu/ minha. É também o medo que não nos deixa sentir à vontade nos lugares. No caminho do meio esse medo se cura com gratidão e generosidade e.... deixar de olhar para seu umbigo e prestar atenção às necessidades dos outros = ser útil. e.... MEDITAÇÃO SILENCIOSA, treino constante para evitar as respostas automáticas. SORRIR PARA OS MEDOS É UM BOM CAMINHO PARA COMEÇAR A TRATA-LOS. Ou seja, aprender a “ desmoraliza-los” já que os medos ilusórios são ridículos e nos ridicularizam. Todos sentem medo, é humano; faz parte da nossa fragilidade e da realidade de que a morte existe, que tudo se modifica e termina. Por isso, numa situação difícil, se perguntar “estou com medo do que?” pode indicar a saída. Para tratar medos buscamos refúgios, lugares ou pessoas de proteção: às vezes caímos no auto-engano e acreditamos que compras, nas dividas,vícios, mestres falsos, magias, ações mecânicas, praticas propiciatórias transformarão essas sensações. Tudo isso alivia apenas temporariamente porque a responsabilidade de mudar o comportamento ainda não despertou. Escolher um refugio verdadeiro nem sempre é fácil; uma forma é escolher ensinamentos de Mestres que admiramos o comportamento, suas escolhas, seus resultados e , principalmente, que tenham conseguido vencer a vaidade e a ganância por riquezas e fama = humildade e simplicidade. O texto desta semana aborda o medo camuflado nas dúvidas e desconfianças – que são situações de bardo, situações de confusão mental comuns na vida, onde o velho não serve mais e o novo ainda não chegou. Acresentando.....um dos temas de observação no Budismo são as “ 8 preocupações mundanas ” – um resumo simples de nossos medos: Gostar de ser elogiado Não gostar de ser criticado Gostar de ganhar Não gostar de perder Gostar de ser feliz Não gostar de ser infeliz Gostar de ser famoso Não gostar de ser ignorado Ainda: observe que através desse tema é possível decifrar os sonhos. Sonhos são uma forma do subconsciente comunicar sobre os medos com o consciente. Os pesadelos são sonhos ligados ao tema das mortes, pequenas e grandes, que fugiram ao controle. _____________________________________________________________________________________ Os créditos do texto em anexo “O que é o medo” vão para Bel Cezar, mãe de Lama Michel e coordenadora dos trabalhos no espaço Vida de Clara Luz.Para recebe-lo escreva para artesdecura@netguest.com

sábado, 11 de janeiro de 2014

Os sentidos podem enganar: você tem certezas?

Seguindo o roteiro o passo seguinte é cuidar das emoções, principalmente das que afligem. Na ordem, os sentidos são as janelas através das quais vemos o mundo – vemos algumas, outras nem notamos, vai do interesse de cada um. Daí, gostamos, não gostamos ou não nos interessamos. Daí, queremos, não queremos, ou tanto faz. Quando há uma ameaça de perder ou a própria perda da imaginaria posse do que pegamos pra nós do mundo, surgem as emoções aflitivas: os vários medos..... Interagimos com o mundo através da percepção dos 5 orgãos dos sentidos e suas respectivas consciências , ouvidos - audição, pele - tato, olhos - visão, língua - paladar, nariz - olfato. Além desses 5 sentidos temos um 6º, que poderíamos dar o nome de “espiritual” que tem 3 niveis de funcionamento: pensamentos/imaginação, sentimentos/emoções e compreensão. As sensações dos sentidos. As sensações permitem as percepções; percebemos a realidade que nos cerca através desses 6 sentidos. A percepção é efetuada, escolhida e avaliada através desses sentidos, de nossas marcas mentais e do meio ambiente que nos formamos ( os condicionamentos). Essas percepções causam sensações agradáveis, desagradáveis ou indiferentes. Aí...colocamos os rótulos, as identidades. Esse o entendimento do tema 5 Skandas ( 5 agregados) que formam o Ego: Corpo físico ( forma), sensações ( sentidos), percepções ( sentimentos e emoções), formações mentais ( condicionamentos) e consciência ( identidade) A consciência armazena essa sensação e elabora a percepção. Tentando encontrar a verdadeira essência passamos pelas ilusorias impressões das emoções; damos às percepções uma solidez que é ilusória – porque tudo muda o tempo todo. Essa solidez, tanto dos dramas, quanto das sucessos e das indiferenças são a origem de nossas confusões. Porque tudo é apenas um bolha prestes a estourar. Daí também a necessidade de cuidar da vida, cuidar de cada momento através das 10 Virtudes ( o oposto das 10 ações não virtuosas), porque tudo passa e porque o momento presente é a semente do amanhã. 10 Ações Virtuosas ( observe num sentido concreto pequeno e num sentido amplo): De corpo: cuidar da vidas, ser leal, não roubar De fala: evitar confundir o outro , reunir, elogiar, evitar fofocas inúteis De mente: admirar as realizações dos outros, ter motivações solidárias e não acreditar em crenças mágicas. O objeto examinado, o órgão do sentido,a percepção e a sensação são fenômenos diferentes e podem enganar fazendo parecer real uma impressão.; ou transformando uma sensação em percepção e causando emoções aflitivas: Ex.:Perceber como uma ameaça arrepiante uma cobra num quarto sombrio, quando na verdade é um pedaço de corda deixado no chão. Interpretar fatos a partir apenas de sensações, os “achometros” pode tornar grave uma situação que é simples – nossos enganos. Os Sutras anexos dão o sentido dessas “ armadilhas”;compreender como essas armadilhas são construídas e desmonta-las faz parte dos ensinamentos. Tente fazer o mesmo exercício com os outros 4 sentidos além das visões enganosas. O que você ouve é exatamente o que o outro está querendo dizer? O sabor que está sentindo é tão salgado quanto o é para o outro; ou o que é gostoso para você é para todos? Como você gostar de ser tocado(a) é como todos gostam? O perfume ou incenso que você prefere, é a mesma escolha de quem convive com você? A tua compreensão da vida é igual a dos teus pais? Fica a pergunta para o que percebemos sugerida pelo Mestre Budista Tchi Nhat Ham : “ Como será na verdade?” “ Você tem certeza?” para receber os textos escreva para artesdecura@netguest.com