quinta-feira, 30 de março de 2017

3 medos

Sentimos medo das dores, da morte e da pobreza. Dores, perdas e morte não ficam tão escondidas; mas o medo da pobreza é um fantasma. Quantas coisas decidimos por medo da pobreza...e nos subtemos: a empregos, a aventuras, a sonhos, a empréstimos, a relações... Medo da pobreza e de parecer pobre. Nas histórias de vários Mestres os vemos saindo de seus palácios, deixando a vida confortável e partindo sem medo da pobreza; ou ainda, sendo feliz de qualquer forma. Ainda existem os que se disfarçam de mais pobres com medo de ser explorado; bem ai é caso pra psicólogo. Pobreza escraviza? Como será que os Mestres fazem para se sentir livres em qualquer lugar? Ontem comentaram que me viam bem depois de uma fase difícil; o que fiz? Me reinventei. Me restaurei coo sugere a oficina de costura: Restaure o tempo. Restaure a energia. Restaure a fé. Restaure as atitudes. Restaure a liberdade. Restaure o sorriso. Restaure o caminhar. Mas principalmente restaurei a coragem. Restaurei Vajradhara, o princípio ou estado da mente dotado de DESTEMOR.

quinta-feira, 23 de março de 2017

A desconfiança que nos acompanha

Pela visão da filosofia budista temos 8 consciências: a olfativa, a do paladar, a visão, a tátil, a auditiva, a mental, a aflitiva e a das memórias . A consciência da mente aflitiva é reconhecida por delusões: raiva/ frustração, carência/ ciúme, ignorância/preguiça, desejo ilimitado/ estratégias obsessivas, vaidade/ artificialidade, inveja/ competitividade. Todas dentro da bolha do MEDO e o medo dentro da bolha da IGNORÂNCIA. No estado mental da inveja/ competitividade, chamado de reino dos semi-deuses, temos uma companhia constante: a DESCONFIANÇA. Com a desconfiança como parceira andamos sempre armados, olhando para trás; tentamos descobrir quem está nos enganando, onde estará o inimigo? ...na propaganda enganosa, no elogio exagerado, na generosidade gratuita, nas promessas de amor eterno, nas dietas milagrosas, nos seguros seguros, nas ameaças???? Também não é por acaso...quantas vezes a ingenuidade nos traiu e caímos em armadilhas! A questão é: a desconfiança permanente rouba energia , obriga a ficar vigilante para defender os direitos com causa ou sem causa. E a vida vai passando....e a saúde também. A desconfiança permanente é um estado neurótico que nasceu de um susto, que se repetiu, se fixou, ensinou a se defender com rigidez e ter um olhar caótico para as aparências. Resta agora desconstruir esse olhar, soltar, recuperar a CONFIANÇA NA NATUREZA LIVRE e construir um novo olhar. Em qualquer estado aflitivo é possível encontrar a desconfiança, que na maioria das vezes não vai encontrar o inimigo. Encontrar um caminho do meio seria muito bom; encontrar a atenção sem rigidez. Atenção com um sorriso. Porque mesmo com toda a atenção, nada é garantido, nem podemos confiar sempre, nem desconfiar permanentemente. Como diz o Lama, no Samsara o cobertor, para um lado ou para outro, é sempre curto. Mas... como comentou o neto Thiago: que bom viver soltinho!

quinta-feira, 16 de março de 2017

A serenidade é possível

A filosofia budista é um dos caminhos para encontrar nossa verdadeira natureza onde é possível desfrutar de uma liberdade natural nos momentos tranquilos e até mesmo nas situações desafiadoras. A liberdade natural é chamada de natureza primordial – um espaço luminoso e silencioso que não oscila enquanto tudo oscila. Foi esse espaço que Buda entrou, ficou e ensinou; é desse espaço que ele olhou para o mundo e para todos os seres e viu que todos nós poderíamos chegar aí – ricos e pobres, inteligentes ou não, estudados ou não. Esse espaço livre e lúcido, o Nirvana, é uma forma de olhar o mundo e seus seres. O Samsara, o espaço repleto de confusões, seduções e distrações apaixonadas, é apenas uma forma autocentrada de olhar o mundo e....sofrimento na certa. Por que? Porque queremos garantir os sucessos, garantir conforto e prazer e ...tudo muda, nada é garantido. È possível encontrar nossa natureza lúcida e livre, a serenidade; ela é uma base que sustenta todas nossas experiências. Como num cinema. Lama Padma Samten explora bem o exemplo da tela de cinema que exibe os filmes. Nossa mente lúcida é como a tela do cinema: se mantém limpa, branca, estável, vazia e luminosa enquanto os filmes vão sendo projetados. Os filmes começam, terminam e a tela continua impassível. Ao mesmo tempo, uma de nossas mentes é observa essas cenas e varias vezes se identifica e se perde, esquecendo que sua verdadeira natureza é a tela branca quando o filme termina. E todos os filmes terminam. Não tem como se apegar a eles. Esse é o jogo da vida. A dificuldade de perceber essa tela branca é resultado dos nossos pensamentos, memórias,julgamentos e emoções agitados e constantes. Meditar ajuda a acalmar os pensamentos e perceber nossa tela branca, lúcida, nossa base natural e serena enquanto o filme que estamos vivendo está passando. Essa base é o verdadeiro refúgio – o lugar onde nada muda enquanto tudo muda. Se quiser saber mais assista os vídeos “Estudando a prajnaparamita” de Marcelo Nicolodi no cebb Rio . E....treinamento, bastante treinamento.

quinta-feira, 9 de março de 2017

O drama nosso de cada dia

Uma fonte clara das aflições é o drama que colocamos no que vivemos e como contamos os sustos. O exagero nas aflições é reflexo de nossas raivas,medos, intolerâncias, frustrações e decepções. Tich Nhat Han, Mestre budista, sempre aconselha não exagerar nosso sofrimento, pois há destruição nessa amplificação. Não é só no sofrimento, é nas vitórias também. Nos 2 casos é fugir da realidade. Na verdade exageramos, colorimos com cores mais fortes, para ganhar plateia, para “aumentar nossa fama” e ganhar mais atenção – porque afinal continuamos mimados e carentes...frente a outros e frente a nós mesmos. Parece até que nossa biografia vai ficar mais interessante. Experimente descrever um fato, um susto ou uma vitória que levou sem usar adjetivos....vai ficar meio sem graça. Lembro uma amiga que dizia que não tinha graça me contar as coias porque eu repetia sem os adjetivos e não dava o efeito que ela desejava..... No caso dos sofrimentos o Mestre vietnamita usa como metáfora uma flechada: evidentemente esse primeiro golpe provocará dor ou alguma ferida.”Mas se, depois, uma segunda flecha atingir a mesma ferida seu sofrimento aumentará tremendamente. Seu exagero é como a segunda flecha. Um bom praticante não permite que a segunda flecha venha. Ela é seu desespero e sua raiva diante da dor inicial da primeira flecha.” O Mestre também comenta que a segunda flechada não vai apenas dobrar, vai tornar a dor 10 vezes mais intensa. “O desespero é uma flecha muito poderosa” Como diz Mary English em “Os monges e eu” muitas vezes ampliamos o que é e o transformamos no que não é.

quinta-feira, 2 de março de 2017

Ciclo vicioso ou virtuoso

Somos seres de desejo. Nascemos de um desejo e vivemos desejando; faz parte da natureza humana. Desejo, apego, fazem partem da caminhada em busca de soluções para o conforto, para a saúde, para o conhecimento. A questão é quando isso se transforma em desejo ilimitado, em ganância, que escraviza e cega num ciclo vicioso de alcançar, garantir e aumentar. Buda acusou esse apego exagerado como o culpado pelos sofrimentos e Schopenhauer seguiu o mesmo caminho. Ele foi o filósofo que introduziu o pensamento indiano e alguns dos conceitos budistas na metafísica alemã. Foi a filosofia de Schopenhauer que serviu de base para toda a obra psicanalítica de Sigmund Freud. “ A ganância é a fonte de todos os nossos problemas. Desde que impermanência que para nós se traduz em angustia, a gente se agarra nas coisas desesperadamente, mesmo sabendo que todas as coisas mudam. Somos aterrorizados por deixar ir, aterrorizados na verdade de viver totalmente, desde que aprender a viver é aprender a deixar ir. E essa é a tragédia e a ironia da nossa luta para segurar: não só isso é impossível, mas nos trás as dores que estamos querendo evitar. A intenção por trás do apego não é por si mesma ruim; não há nada de errado com a vontade de ser feliz, mas o que estamos tentando agarrar é por natureza “não agarrável”. Os tibetanos dizem que não podemos lavar duas vezes as mãos sujas na mesma água do rio que corre e não importa quanto se aperte um punhado de areia, será impossível conseguir tirar óleo dele.”palavras de Sogyal Rinpoche Viver e conviver sem apego, desejo ilimitado, ganância e viver com cuidado, altruísmo e atenção, é transformar esse ciclo vicioso em ciclo virtuoso.