sexta-feira, 29 de abril de 2016

Contentamento é uma boa direção

Vivemos momentos ou épocas de satisfação e outras de insatisfação. Na satisfação, a inquietação pode ser medo de perder essa condição. Na insatisfação, a inquietação pode ser aversão e expectativa por momentos melhores. Medo e expectativa: mães perfeitas do stress. Nos dois casos, uma corda bamba; e assim a vida vai: momentos de grande alegria e sucessos lá no pico, momentos de decepção e frustração lá embaixo. Um sobe e desce contínuo, as incoerências do Samsara diria o Budismo. Mas existe um terceiro lugar: o contentamento. O contentamento não é forte alegria, nem neutralidade; contentamento é cultivar um olhar de interesse pela situação, observando suas mudanças, tentando se tornar um detetive em busca da positividade da situação. Gosto da ideia de admitir que os momentos difíceis são resultados do que plantei e que, se estão se manifestando, também está sendo uma oportunidade dessa semente terminar seu ciclo. Pode ser complicado viver a dificuldade mas cada dia é um dia mais perto do final desse ciclo e o contentamento vem da curiosidade pelo que virá. Aí, a morte dessa semente vai abrir espaço para novidades. Depois dos finais chegam as novidades. Fico imaginando que o susto de cada dia é como uma casca ruim que vai soltando e se dissolvendo pelo caminho e a garantia de momentos melhores vai depender das intenções e ações solidarias do que se semeia a cada momento.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Armadilhas da compaixão

Na verdade se fosse realmente compaixão não criaria armadilhas. É que confundimos compaixão com pena, dó etc Na compaixão tentamos criar meios hábeis para tirar a pessoa de suas confusões e sofrimentos. A pessoa está num buraco e vamos buscar uma corda para puxa-la. Mas para isso não podemos nos deixar abalar pelo sofrimento de quem está aflito, é preciso manter a estabilidade; podemos ficar interessados, sensibilizados, mas é preciso um cuidado: a codependência. A culpa pelo sofrimento do outro é uma armadilha grave porque ao invés de resolver o problema cria ainda mais condições para que essa situação se agrave: o problema de uma pessoa se transforma num drama de duas. Se a corda for fraca, vai arrebentar e haverá outra queda; se formos menos pesados que quem caiu no buraco, seremos 2 dentro do buraco. Digo culpa, mas poderia ter dito , medo, vergonha, duvida, egoísmo, preconceito, raiva. Qualquer uma dessas aflições nos abala e perdemos o bom senso. Trazer um mendigo para dentro de casa, não vai resolver o problema dele; existem instituições mais adequadas. Acolher um irmão viciado em droga ou com problemas psiquiátricos, sem um apoio adequado, não vai tira-lo de sua “prisão”, vai criar um pequeno inferno perigoso em casa. Por outro lado, se nos deixamos abalar pelo sofrimento do outro, pagar de alguma forma para que ele fique longe, pode piorar a situação; quando esse pagamento terminar o problema estará muito maior, porque não teremos contribuído para a autonomia desse ser. A compaixão verdadeira está apoiada na razão não nos apegos. Claro que existem casos e casos, as coisas não são tão simples assim mas, se existe alguma chance de ajudar a pessoa a sair de sua confusão é agir segundo 4 ações: *não se deixar abalar pelo culpa, medo, vergonha, julgamento e raiva *pacificar a comunicação com bondade e contentamento *manter o interesse para descobrir o que realmente é necessário resgatar *agir com firmeza e determinação Mas....sempre se lembrando das palavras de SS Dalai Lama: “tanto quanto você possa” "Para manter a sabedoria, é necessário ter força interior. Sem desenvolvimento interior, às vezes podemos não conservar a autoconfiança e a coragem. Se perdemos essas coisas, a vida fica difícil. O impossível pode ser possível com força de vontade." — Dalai Lama

sexta-feira, 1 de abril de 2016

O que é generosidade mesmo?

Encontrei um DVD sobre os ensinamentos que SS Dalai Lama deu em 2006 em São PAulo; no capítulo sobre Compaixão ele reforça que sentir esse sentimento não é só sentir, é fazer algo para aliviar a aflição de quem sofre. Mas como ? tanta gente sofrendo suas dores....e aquelas que acreditam estar no caminho para felicidade e estão cavando seu próprio buraco...como ajudar? Essa é uma inquietação de quem se sente tocado pelas dificuldades dos outros; mas.... quais são os meios hábeis para ajudar realmente? Será que quero que o sofrimento do outro termine logo porque simplesmente isso me incomoda? Penso que aliviar o sofrimento do outro é aliviar a causa desse sofrimento, não apenas os efeitos. Mas isso é difícil até para nós mesmos. Mas só de pensar que é assim e dedicar esse olhar para quem sofre, ou se engana, ou está confuso já vai criar condições para que essa história possa se modificar. Olhar para uma pessoa que está sofrendo e acreditar que sua verdadeira natureza é livre e luminosa, que essa experiência difícil vai mudar, que TUDO muda, é essencial. Essencial porque será um olhar de não fixação. Mas enquanto o sofrimento ainda queima é possível oferecer o que está faltando, o que a pessoa está pedindo ( tanto quanto a gente possa) e aí o Budismo dá sugestões, as 4 generosidades: Generosidade de dar apoio material; dinheiro, comida, casa, trabalho etc Generosidade de proteger dos medos Generosidade de ensinar o que sabe Generosidade de acolher sem julgar Seguir junto sem expectativas e com interesse, também é útil. "Compreender o ponto onde as pessoas estão é que pode propiciar benefícios. Se elas têm fome, é preciso dar comida. Se estão com frio, é abrigo que vamos oferecer. Fazemos essas atividades específicas sem perder de vista o caminho como um todo e suas diversas etapas. Essa é a abordagem da cultura de paz." — Lama Padma Samten