quinta-feira, 26 de maio de 2016

O que você escolhe?

Como diz um professor:”o que você escolhe : ter razão ou ser feliz?” Penso que essa pergunta é uma boa companhia para a viagem da vida. Revendo as frases da musica do Osvaldo Montenegro “A lista”, um hino de reconhecimento da verdade da impermanência, que tudo muda, tudo está mudando, consigo imaginar que essa pergunta poderia ter facilitado muitas situações inquietantes. Ainda bem que muda, porque os finais são sempre o início das novidades. Lembrar da mudança permanente ajuda a não fazer drama, a não colorir demais nem as alegrias nem as tristezas – caminho do meio, o encontro com a serenidade. Mas essa pergunta teria facilitado muito fazer escolhas. Pra que serve nossos exageros? Pra que dar tanta importância aos fatos que todos vamos vivendo? Para que ter sempre razão e querer comprovar nossos argumentos? Talvez, melhor voar com leveza pela vida trazendo alegria às pessoas que vamos encontrando ou pelo menos, evitando prejudicar. A letra da musica dá para fazer um exercício interessante sobre nossa história e verificar o que realmente vale à pena? Amores, vaidades, segredos, sonhos, mentiras, gostos e desgostos....tudo muda, tudo passa, de nada adianta nossa tentativa de fixar. Onde foram parar nossas certezas? Qual o verdadeiro significado da vida? Qual o melhor caminho? Onde colocar energia? Valeu à pena tanto esforço para demonstrar que tinha razão? Chamo carinhosamente essa musica de a melô da impermanência: Faça uma lista de grandes amigos Quem você mais via há dez anos atrás Quantos você ainda vê todo dia Quantos você já não encontra mais _____ Faça uma lista dos sonhos que tinha Quantos você desistiu de sonhar! Quantos amores jurados pra sempre Quantos você conseguiu preservar... ______ Onde você ainda se reconhece Na foto passada ou no espelho de agora? Hoje é do jeito que achou que seria Quantos amigos você jogou fora? ________ Quantos mistérios que você sondava Quantos você conseguiu entender? Quantos segredos que você guardava Hoje são bobos ninguém quer saber? __________ Quantas mentiras você condenava? Quantas você teve que cometer? Quantos defeitos sanados com o tempo Eram o melhor que havia em você? ___________ Quantas canções que você não cantava Hoje assovia pra sobreviver? Quantas pessoas que você amava Hoje acredita que amam você? _______________

quinta-feira, 19 de maio de 2016

As vítimas da guerra de cada dia

Numa das colunas escritas por Luis Fernando Veríssimo, li a frase: “Numa guerra a primeira vítima é sempre a verdade; a segunda vítima é o senso do ridículo”. O escritor estava se referindo à cena política que vivemos no Brasil atualmente mas logo fiz analogia com momentos de guerra pessoal que vivi ou que assisti. Numa luta, ou qualquer briga, defendemos a nossa posição. Ou, estamos apegados as nossas crenças. Esse apego já foge da verdade porque é uma visão estreita. A verdade é uma visão ampla, livre, colorida. Na verdade não há luta; há a soma das posições, há busca, humildade, acordos e descobertas. A briga mata a verdade. E quando lutamos pela verdade dos outros? O que está oculto nos manipulando? A verdade organiza. Lembre das cenas que viveu e brigou? O que havia de verdade em tudo aquilo? Numa briga, apaixonados por uma posição, por um ponto de vista, no calor da discussão perdemos o senso do ridículo. E como perdemos!!!! Fica muito ridículo! Os gestos, as caretas, as palavras, os silêncios, os gritos... Assistir uma briga pelo lado de fora é assistir a um espetáculo grotesco de picadeiro . De longe o drama fica ridículo ou não ? O Dharma é a busca da verdade. Na verdade há paz. Na verdade há elegância. Na verdade há amizade. Por isso que há o habito de terminar nossos encontros repetindo: “Pelo poder da verdade, paz e alegria, agora e sempre”

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Respostas da filosofia budista

Assim foi o e-mail que enviei para uma aluna de enfermagem que precisa para trabalho de faculdade. Talvez traga alguma informação nova para você também, ou para passar de forma leiga para quem pergunta Luciana, *O que é a doença para o budismo? Estudamos a Filosofia Budista sob orientações de Mestres do Budismo Tibetano, de SS Dalai Lama e outros mestres autorizados por ele. Nessa tradição os estudos se aproximam mais da psicologia. Embora todos os estudos de qualquer linhagem de Budismo comecem pelas “4 Nobres Verdades” ensinadas por Sidarta Gautama o Buda histórico: A insatisfação ( sofrimento) faz parte da vida Existe uma causa para esse sofrimento É possível cessar essa causa Existe método para isso. Existem 3 tipos de sofrimentos: O sofrimento da mudança, a impermanência de tudo e todos O sofrimento das dores físicas e mentais O sofrimento que permeia a vida,: catástrofes, destruições, o imponderável – pessoais, sociais e do meio ambiente. A causa dos sofrimentos são principalmente, os 3 venenos mentais: Ignorância ( não compreender a realidade além das aparências) Apego ( desejos ilimitados) Aversão ( as raivas, o que queremos evitar fortemente) A ignorância é a “mãe” dos outros 2 venenos: Ignorância de não saber ou de saber com enganos Esses 3 padrões de comportamento geram 6 estados mentais confusos e doentios chamados delusões : Orgulho, culpa, vaidade, riqueza alienada do sofrimento alheio etc Inveja, competitividade exagerada, desconfiança, se sentir guerreiro o tempo todo etc Apego, ciúmes, desejo ilimitado etc Insatisfação, irritabilidade, depressão, sensação de rejeição etc Raiva, ódio, vingança, tristeza etc Preguiça, torpor, dependência, acomodação etc Os 6 estados mentais confusos carregam um tipo de medo. Qual o processo de cura? O que é feito para ajudar no processo de cura? Por que a pessoa adoece? O Budismo pensa as aparências são reflexos de processos mentais e as aparências atuam nos processos mentais, esse processo é chamado de Coemergência. Então na medicina do Budismo Tibetano sempre se busca entender os processos mentais que estão por trás das doenças físicas e mentais. O primeiro passo que os médicos fazem é tentar descobrir qual foi o susto que a pessoa teve antes da doença se manifestar. Para todo grande susto o corpo somatiza e, possivelmente, um medo é instalado. A partir esse medo a pessoa vai fazer escolhas para se defender, vai projetar esse medo nos outros e vai fazer escolhas que comprovem que esse medo é real –“ armar as armadilhas do sofrimento” O ciclo está feito.... Além de medicamentos, esses medos precisam ser tratados e o ciclo precisa ser demonstrado e desmascarado. Uma vez vencido o medo o processo de tratamento fica mais fácil. A doença física já é um alarme que emocionalmente, mentalmente as aflições não foram cuidadas a tempo. A medicina budista vai trabalhar também com os 5 elementos que origina tudo e a todos e seu potencial: Elemento éter – espaço físico e mental Elemento vento – movimento Elemento fogo – criatividade Elemento água – flexibilidade Elemento terra- equilíbrio Os processos mentais influem na produção e na distribuição – excesso ou diminuição - desses elementos pelo corpo e o reequilíbrio desses elementos é conseguido através de reconhecimento mental, alimentação, mudanças de atitudes e medicamentos. Como deveria ser o dia-a-dia de quem segue o budismo? Como todos sentimos medos reais e na maioria, imaginários todos precisamos nos tratar e encontrar atitudes mais confiantes. Esse é o caminho budista: Treinar a mente para atitudes mais positivas, mais livres, mais lúcidas, mais bondosas, mais generosas, mais alegres sem se alienar da realidade que é difícil para todos. O caminho do meio, o contentamento sereno, é a meta para viver melhor e também ser útil aos outros. Um truque: quando nos sentimos tensos, inquietos, angustiados, confusos, aflitos – perguntar “do que estou com medo” ajuda a retirar o desconforto e evitar que processos físicos piorem, que as relações fiquem mais tensas, que as escolhas sejam equivocadas. O caminho budista incentiva a busca pela verdade e trazer benefício aos seres, ou pelo menos, não trazer prejuízo. Costumamos afirmar a quem entra nos estudos: Abandone o ideal de perfeição Abandone as certezas absolutas Tudo está certo, mesmo quando não compreendemos. Reconhecer a morte, a impermanência, é inteligente porque tornamos todos os dias preciosos. Vamos tirar o poder do Ego de te fazer sentir ameaçado mais do que necessario. O que é o nirvana? É o estado oposto ao Samsara. Samsara é a visão desse ciclo aparentemente, interminável da vida nascer, viver, morrer e renascer em tudo e todos, uma vida repleta de incoerências, sofrimentos, injustiças; como não há lucidez e bondade suficientes esse sofrimento vai se reproduzindo pelo egoísmo. Nirvana é a visão altruísta, generosa, compassiva e lúcida da vida. Samsara e Nirvana são 2 lados da moeda que já existem, são uma escolha. Nossa mente primordial, original, é uma mente búdica; apenas estamos confusos e reféns de visões errôneas. Como se chega ao nirvana e se um praticante comum consegue alcança-lo. O caminho é um mergulho interno e silencioso para fazer “decantar” as impurezas : correrias, os impulsos automáticos,os pensamentos atribulados, aflições, culpas, vergonhas, ambições etc A mente é um lago , quando a água fica calma ela é capaz de refletir o brilho da lua com clareza. Por isso meditamos, pode ser focando na respiração, nos sons, numa imagem, numa parte do corpo – para treinar a mente ficar clara. Essa clareza, ativa o princípio ativo da vida promovendo lucidez, confiança, bondade e alegria. Meditar é fundamental no mínimo 8 minutos por dia. O melhor treinamento é aproveitar as situações do dia-a-dia para treinar paciência, generosidade, esforço constante, ética, concentração, sabedoria, bondade amorosa, compaixão, igualdade e alegria. TASHI DELEK , boa sorte em tibetano!