sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Psicologia da compaixão

Psicologia da Compaixão

Compaixão é um termo que tem variáveis definições dependendo da formação de onde foi retirado o termo; pode ser confundida com pena, com tolerância, com paciência, com altruísmo, com dó, com perdão etc.

Na tradição tibetana o Budismo é muitas vezes descrito e compreendido como a psicologia da compaixão.
Nessa visão a compaixão é a nossa natureza mais profunda; ela nasce da nossa interconexão com todas as coisas.

Alan Wallace, um Mestre ocidental que ensina o Budismo Tibetano, dá o seguinte exemplo: imagine que você está na calçada, os braços cheios de pacotes. Você acabou da fazer compras no supermercado e alguém dá um encontrão violentamente: todos os alimentos voam e rolam pelo chão. Enquanto você se levanta no meio de um mar de molho de tomate e ovos quebrados, você está a ponto de gritar:”Imbecil! Não vê por onde anda? Você é cego?” Mas no momento que você está tomando fôlego para falar, você percebe que quem te machucou é cego; ela também caiu no chão no meio dos ovos rachados. No mesmo momento a tua cólera evapora, dando lugar a uma solidariedade compassiva:”você se machucou? Posso te ajudar a se levantar?”.
Assim é nossa situação.Quando realizamos com clareza que a origem da falta de harmonia e da miséria do mundo é a ignorância, é possível abrir a porta da sabedoria e da compaixão.

Quem busca o caminho do auto-conhecimento, da psicoterapia ou os ensinamentos espirituais possui suas confusões e aflições.O Budismo ensina que sofremos não porque somos imperfeitos, mas porque somos cegos. A compaixão é o antídoto para essa cegueira, e ela brota quando nos percebemos todos – nós, amigos,desafetos e pessoas indiferentes – na condição humana.

Jack Kornfield, Mestre Budista ocidental, descreve compaixão como a capacidade de olhar nossas lutas e dificuldades com um olhar bondoso.
Nós precisamos compaixão e não de raiva para nos ajudar a abordar com doçura o que nos causa problema e não nos fecharmos nos medos. Assim se opera a cura.

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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Para onde nos leva a perfeição

Onde foi que aprendemos e decoramos que tínhamos que buscar a perfeição, ou perfeições?

Onde foi que aprendemos a admirar os modelos de perfeição?

Conheci uma vizinha que tudo era perfeito na sua vida: seus filhos brincalhões, seu bem sucedido marido, suas empregadas uniformizadas. Chegava em casa estendia suas luvas para uma funcionaria e a bolsa com as chaves do carro para outra.O café era servido numa pequena mesa com toalhas engomadas de linho, xícaras importadas e tudo enfeitado com sorrisos e brasões da família. Os armários....impecáveis.o guarda-roupa era guarnecido com uma mesa de passar para cada peça a ser vestida.
Tudo perfeito;bem...tudo parecia perfeito. Ela ia festas e nem se sentava para não amassar o vestido, os filhos tinham um guarda-roupa de magro e outro de gordo ????? lenços de seda do marido protegiam o colarinho de suas camisas. Coisas só vistas em filme de Holywood dos anos 50.
Mas também visitava uma amiga de minha avó que morava numa palafita em Bertioga com tudo perfeitamente limpo e enfeitado com flores;até hoje, lembro de brincar no assoalho encerado que parecia um espelho – imagino quanto tempo ela gastava para ter aquele efeito!!!Seu vestido de chita florido era super bem passado, o bolo do lanche era tirado do forno no ponto.os objetos de fazer unha eram meticulosamente guardados dentro da caixinha de veludo e o costureiro acomodava as linhas em cores “degradês” e...sempre um sorriso no rosto; sempre!!!!!

Como será na verdade essa busca pela perfeição? Para que, para quem, por que?
Será que a iluminação é exatamente a perfeição?
No texto abaixo que recebi da amiga Noemi, encontrei uma das hipóteses e compartilho com você.

A Arte da Imperfeição

Não sei quanto a você, mas eu ando definitivamente exausta de correr atrás da perfeição. No outro dia me peguei medindo as toalhas de banho dobradas para que elas formassem impecáveis pilhas no meu armário. Uma amiga me diz que arruma os vidros de tempero por ordem alfabética. Não é incrível?

Nosso índice de tolerância aos "defeitos de fabricação" do universo anda mesmo muito baixo. E isso nos torna a espécie mais reclamona do universo, provavelmente a única! Ou será que bois e vacas interiormente também reclamam do calor e daquelas moscas sempre em volta dos seus rabos...

Passamos um bocado de tempo tentando caber nas molduras que inventamos para nós mesmos. Isso quando escapamos de tentar vestir à força as expectativas que os OUTROS criaram para NÓS. Senão, me digam por que seres humanos razoáveis investiriam tanto tempo, dinheiro e energia para tentar recuperar a imagem que tinham aos 18 anos?

Perceber a beleza que se esconde nas frestas do mundo imperfeito é uma Arte. Você conhece aquela história de que os tapetes persas sempre tem um pequeno erro, um minúsculo defeito, apenas para lembrar a quem olha de que só Deus é perfeito? Pois é, a Arte da Imperfeição começa quando a gente reconhece e aceita nossa tola condição humana.

Para isso precisamos aprender a aceitar nossas falhas e dos outros com a mesma graça e humildade com que aceitamos nossas melhores qualidades. E, importante: estarmos dispostos, sempre, a perdoar a nós mesmos. Não precisamos ser perfeitos para ser um ser humano bem-sucedido. De fato, com mais frequência do que imaginamos, o desejo de acertar sempre impede as coisas de melhorarem e a necessidade de estar no controle aumenta a desordem e o caos.

A Arte da Imperfeição, no entanto, não se limita ao reconhecimento das imperfeições humanas. Também tem a ver com nosso jeito de olhar para as coisas mais banais, mais corriqueiras e enxergá-las com outros olhos.

Leonard Koren publicou alguns livros tentando revelar para o nosso jeito ocidental as delicadezas do olhar wabi sabi. Wabi sabi é a expressão que os japoneses inventaram para definir a beleza que mora nas coisas imperfeitas e incompletas. O termo é quase que intraduzível. Na verdade, wabi sabi é um jeito de "ver" as coisas através de uma ótica de simplicidade, naturalidade e aceitação da realidade.

Contam que o conceito surgiu por volta do século 15. Um jovem chamado Sen no Rikyu (1522-1591) queria aprender os complicados rituais da Cerimônia do Chá. E foi procurar o grande mestre Takeno Joo. Para testar o rapaz, o mestre mandou que ele varresse o jardim. Rikyu lançou-se ao trabalho feliz. Limpou o jardim até que não restasse nem uma folhinha fora do lugar. Ao terminar, examinou cuidadosamente o que tinha feito: o jardim perfeito, impecável, cada centímetro de areia imaculadamente varrido, cada pedra no lugar, todas as plantas caprichadamente ajeitadas. E então, antes de apresentar o resultado ao mestre Rikyu chacoalhou o tronco de uma cerejeira e fez caírem algumas flores que se espalharam displicentes pelo chão.
Mestre Joo, impressionado, admitiu o jovem no seu mosteiro. Rikyu virou um grande Mestre do Chá e desde então é reverenciado como aquele que entendeu a essência do conceito de wabi-sabi: a arte da imperfeição.

O que a historinha de Rikyu tem para nos ensinar é que estes mestres japoneses, com sua sofisticadíssima cultura inspirada nos ensinamentos do taoísmo e do zen budismo, conseguiram perceber que a ação humana sobre o mundo deve ser tão delicada que não impeça a verdadeira natureza das coisas de se revelar. E a natureza das coisas é percorrer seu ciclo de nascimento, deslumbramento e morte; efêmeras e frágeis.
Eles enxergaram a beleza e a elegância que existe em tudo que é tocado pelo carinho do tempo. Um velho bule de chá, musgo cobrindo as pedras do caminho, a toalha amarelada da avó, a cadeira de madeira branqueada de chuva que espreguiça no jardim, uma única rosa solta no vaso, a maçaneta da porta nublada das mãos que deixou entrar e sair.

Wabi sabi é olhar para o mundo com uma certa melancolia de quem sabe que a vida é passageira e, por isso mesmo, bela. Para os olhos artistas de Leonard Koren wabi sabi é inseparável da sabedoria budista que ensina:
__Todas as coisas são impermanentes
Todas as coisas são imperfeitas
Todas as coisas são incompletas
Daí olhar para elas de um modo wabi sabi é ver:
A beleza que existe naquilo que tem as marcas do tempo.
A beleza do que é humilde e simples.
A beleza de tudo que não é convencional.
A beleza dos materiais que ainda guardam em si a natureza.
A beleza da mudança das estações.

A Arte da Imperfeição é ver a vida com a tranquilidade de quem sabe que a busca da perfeição exaure nossas forças e corrói nossas pequenas alegrias. Porque, como disse Thomas Moore, "a perfeição pertence a um mundo imaginário". No nosso mundo, a imperfeição é de verdade, aqui e agora. Que tal abrirmos os olhos para o estilo wabi sabi?


terça-feira, 9 de agosto de 2011

Por que justo comigo?

Você já se fez essa pergunta? em que situações, você se lembra?
Eu já fiz, até varias vezes.
Até o dia que consegui compreender.

As respostas, ou hipóteses, são mais duvidosas ainda.
Duvidosas para não dizer enganosas....

Primeiramente vamos procurar a origem, quem é que fala?
Parece que essa questão é sempre levantada pela vítima que existe dentro de nós.

Para uma vítima sempre há “um carrasco”.
Mas será que esse carrasco é o verdadeiro responsável pelo nosso sofrimento ou...somos nós que nos deixamos explorar?

Por que? Porque sofremos da neurose vitimista – acreditamos que estamos sendo vítimas.
Dos outros, de um carrasco, quando na verdade, somos vítimas ed nós mesmos, ou seja:
uma falsa vítima.

Nosso sofrimento psicológico de sem sentir vítima, não é problema dos outros – é nosso problema.

O outro tem um determinado comportamento e eu é que sofro?!!!!!
Alguém faz alguma coisa que não te agrada e sofremos em consequência disso.
Você está com vontade de dançar e teu companheiro(a) escolhe e tem prazer em dançar com outro.

As pessoas têm o direito de fazer aquilo que têm vontade, nós também.
Quando nos aborrecemos com alguém, é melhor refletir sobre o que estamos fazendo das nossas escolhas,
qual a verdadeira motivação de nos deixarmos sofrer ao lado de uma
situação constrangedora, de uma companhia infiel, de um trabalho que não nos respeita ou que não rende
etc etc....

A questão é que nossas expectativas nos colocam fora da realidade e isso é a neurose : perder o contato com realidade, imaginar que.

Nossa felicidade não pode depender do que os outros fazem ou escolhem, precisa depender do que nós fazemos e escolhemos.

Como o psicoterapeuta italiano Giacobbe sempre reafirma:
Existe uma lei psicológica que diz:
Ninguém pode fazer sofrer ninguém.
E eu acrescrento:
Não dê a ninguém o direito de te fazer sofrer.

Então à ação:

A vítima é uma lado infantil que mora dentro de nós, carente de atenção, afeto e mimo. Acabar com ela é
uma questão de honra porque ela nos escraviza, nos torna refém dos outros, de crenças, de modismos,
de medos, raivas, culpas, ciúmes, inveja, vergonhas, discriminações e....
fixações de todos os tipos.

Mas.....se você já refletiu com seriedade e sente que não consegue mesmo suportar o comportamento de alguém, ou uma situação
é preferível se separar dessa fonte de sofrimento.
Liberte-se dessa violência psicológica para fazer o que quiser da vida e se responsabilize como um verdadeiro adulto por essa decisão,
SEM DRAMA.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Que rótulo você está usando?

Na visão tibetana da Psicologia do Budismo um dos temas para estudar é:
Os rótulos matam as relações.

Pode ser que não matem mas.... com certeza, dar poder aos rótulos empobrece as relações.

Raças, religiões, cargos, opções sexuais, partidos, times, parentescos......fronteiras e mais fronteiras...
Rótulos servem para organizar, dar referências e ajudar na comunicação.

Mais certo , mais errado fazem parte de pontos-de-vista relativos e subjetivos.

Nosso tempo é tão precioso!!! há tantas coisas a aprender e desfrutar que discussões sobre a verdade dos mistérios podem ser deixadas para mais tarde.

Hoje mais que nunca temos a liberdade de escolher o que mais combina com nossa vida.
Como diz SS Dalai Lama: todas as religiões são imprescindíveis.

Discutir crenças é surreal.

A charge em anexo é bem inteligente e divertida:

Num desenho italiano 2 homens pré-históricos estão ajoelhados e prostrados em frente a um monte de pedras. Outros com suas outras pedras comentam:
“.que tontos... eles não sabem que o nosso monte é o verdadeiro Deus”.

O apego às crenças pessoais é o apego mais difícil de dissolver e é ele a origem das raivas, intolerâncias, frustrações, decepções, vinganças, depressões que nos prendem ao passado. O apego a crenças aprendidas parece oferecer segurança; mas...a única saída inteligente é aprender a conviver com a insegurança porque:

Tudo é impermanente, a mudança acontece a cada minuto e nada é garantido. Os rótulos também estão de passagem.

O apego a crenças pessoais cria e expectativas.
Experimente observar uma contrariedade que teve.
Qual era a tua crença?
O que aconteceu te aborreceu porque tinha que ter sido do jeito que você esperava, nem certo nem errado, mas.....do teu jeito.

Aceitar e “passar o troféu para o inimigo” é o caminho mais curto para a paz e permite despertar a nossa gentileza oculta.