quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Ouvir e ser ouvido

ou ....Entender e ser entendido Apenas vale-à-apena conversar ( principalmente em uma DR) com alguém se estivermos e a pessoa ouvinte estiver, pelo menos 10%, disponível a mudar de idéia. Se o teu interlocutor estiver 100% cristalizado em suas certezas, vá tomar um sorvete, passear, olhar arvores...vá se distrair para não desperdiçar teu tempo; vá se distrair até que ele tenha espaço mental para levar em conta outras opiniões ou... aceite a situação. Aí... a dificuldade continua. É preciso descobrir se o outro entendeu exatamente o que eu disse, descobrir se fui clara o suficiente. Aí...estar interessado(a) no que o outro está comentando e devolver para perceber se entendeu corretamente. O cuidado é tecer comentários do que a gente está percebendo e sentindo – isto evita a crítica e alivia a tensão da conversa. A gente chama para si a responsabilidade e sensibiliza o outro para o que está nos acontecendo. Ex.: eu me sinto triste ( desvalorizada, ameaçada, insegura etc) quando você faz ( diz) ou...não faz... Houve uma época em que usávamos um relógio de xadrez para garantir que cada um tivesse realmente seu tempo ( 10 minutos cada) garantido; valeu-a-pena: aprendemos a nos ouvir com atenção e silenciosamente. Pelo menos é uma tentativa de se comunicar com mais clareza e que a conversa seja útil se....se o outro estiver com boas intenções. E no final..vale um abraço e sorrisos.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Quem sou eu?

Se eu perder meu nome e minha história nesta vida...o que sobra de mim? Um vazio? Não. Sobra exatamente o que sou, minha essência. O Budismo diz que somos a soma dos 5 skandas ou os 5 agregados: 1- Uma parte física, o corpo 2- Os sentidos, que nos fazem conhecer a realidade de acordo com nossas capacidades 3- As percepções, o julgamento ( preconceitos) que fazemos da realidade que captamos : bom/ruim, meu/teu, pequeno/grande, alto/abaixo etc 4- As formações mentais, os pensamentos, os condicionamentos e fixações 5- A consciência, as identidades construídas. Um agregado “dita” o outro de frente para trás, de trás para frente; um vai se refletindo no outro. Os 5 agregados forma um todo. O exemplo tradicional dado por Buda é o da carroça. Aqui substituímos por um carro : O carro são suas rodas? O carro é seu motor? O carro são seus estofamentos? O carro é sua lataria? O carro é o combustível que usa? Separados não são nada. Mas então o que é um carro? É tudo isso mais sua função de transportar pessoas. Quem sou eu? Com certeza não sou aquilo que meus pais queriam que eu tivesse sido, que meus filhos esperavam que uma mãe perfeita fosse, que os todos os clientes esperavam encontrar... Até carente...e iludida tentei ser, mas não deu! Não sou apenas meu corpo, que até vai se gastando com o tempo. Não sou apenas meus sentidos que vão se apagando com o tempo. Não sou apenas minhas opiniões que também vão se transformando com o tempo. Não sou apenas os condicionamentos que me engessam porque alguns até já quebraram e perdi; e outros surgiram com novos sustos. Não sou apenas as identidades que construí porque já mudei o cartão de visitas varias vezes: filha, estudante, namorada, esposa, mãe, professora, terapeuta, aposentada.... e...afinal que sou eu? Sou tudo isso, mais os rastros e as histórias que deixei. "Acordar para quem você é requer desapego de quem você imagina ser." Allan Watts

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O poder do silêncio

"A meditação é uma das raras ocasiões em que nós não estamos fazendo nada. Caso contrário, estamos sempre fazendo alguma coisa, estamos sempre pensando em algo, estamos sempre ocupados. Nós nos perdemos em milhões de obsessões e fixações. Mas, meditando - não fazendo nada - todas estas fixações são reveladas e nossas obsessões, naturalmente desfazem-se como uma serpente desenrolando-se." DzongsarKhyentseRinpoche Parece que sempre estamos pressionados a pensar algo, resolver alguma coisa, escolher outra. Vivemos nos curando dos sustos. Vivendo em Santos perto de uma rua movimentada, andando por São Paulo com todos os estímulos auditivos possíveis, encontrar um local silencioso é uma benção. Meu neto avisa que o local onde mora é uma “ bolha de silêncio”. Porque nos deslocamos o tempo todo por dentro de bolhas aflitivas, bolhas urgentes, repletas de defesas. Vivemos tentando controlar essas bolhas. Que delícia, que repouso! Encontro essas bolhas em Campos do Jordão. Encontro essa bolhas nos claustros durante a vigília. Mas também encontro nas madrugadas. Quando posso me sentir no silêncio, sem testemunhas, sem sustos. Às vezes o silêncio amedronta, incomoda...será o medo da morte? Quando todos os ruídos somem.... Ou... será esse o momento de total liberdade – não será preciso resolver mais nada. Soltos de todos os “tem que”. Imagino que esse movimento pode ser como um vôo leve num infinito céu azul calmo – muiiiito calmo. Não será preciso mais se deslocar para dentro de nenhuma bolha... não vamos precisar se envolver em mais nenhuma bolha.....livres. A meditação nos treina para encontrar bolhas de silêncio, soltos dos condicionamentos, das fixações. Bolhas de silêncio mesmo em meio aos ruídos internos e externos. "Meditação sobre a almofada é uma janela através da qual você pode ver o seu próprio mundo interior claramente: pensamentos, emoções, neurose, sofrimento, delírios, crenças, confusões, a ignorância. Tudo vem à luz. Não só isso, você vê com você pode trabalhar com tudo isso, a fim de superá-los com sabedoria." DzigarKongtrulRinpoche

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O que é real, o que é ilusão

O Budismo afirma que tudo é uma ilusão. Bem... não é bem assim. A ilusão é como percebemos a realidade. Vemos a realidade de acordo com as informações mentais que existem na nossa mente. Vemos a realidade como nos ensinaram em criança, com as nossas tendências, os valores da cultura de cada um, de acordo com a capacidade dos nossos 5 sentidos, das capacidades mentais e dos condicionamentos. Cada um percebe a realidade externa de acordo com sua realidade interna. É injusto dividir o justo do injusto, o bem do mal, o correto do incorreto; tudo depende da bagagem de cada um. Essa bagagem cria as bolhas que nos envolvem e onde nos relacionamos. Aí vem a vida estoura a bolha, as coisas mudam e aparecem outras bolhas que refletem nossos outros condicionamentos. Uma forma de treinar olhar a realidade na sua essência é observar o que acontece mas... evitando usar adjetivos. Adjetivos são interpretações pessoais – tipo: ruim, bom, pequeno, grande, certo, errado, largo, estreito, rápido, vagaroso, bonito, feio, negativo, positivo, dentro, fora etc etc etc Além disso...sem eu, meu, minha, teu , tua. O véu dos dramas se dissolvem quando riscamos os adjetivos. Sabe por que? Porque as fronteiras desaparecem e não mais nos ameaçam. Experimente olhar para uma situação, descreva, se possível escreva o que você está vivendo com adjetivos e, depois, sem adjetivos e vai entender o que estou dizendo. exemplo: Estou comprando um carro maravilhoso! Estou comprando um carro. Estou despedindo com medo minha faxineira Rosa. Estou despedindo a faxineira que trabalha em casa. Olhar uma situação difícil sem usar adjetivos dá até para entender o quanto posso ser útil ou.... não ser. Aí... dá até para acreditar que a paz é possível.