quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Agora é hora da culpa...

Já escrevi sobre ciúmes, inveja, raiva, complexos e outras emoções perturbadoras...agora é hora de falar sobre a culpa. Assistindo a entrevista realizada por Roberto D’Avila com o neurocirurgião Dr.Paulo Niemeyer chamou atenção uma de suas respostas. Perguntado sobre sua reação a resultados negativos nas cirurgias, comentou que esses episódios provocam a reflexão sobre o que poderia ter sido feito diferente e que, a culpa que sente é reflexo do seu comprometimento com sua profissão. Isso me fez pensar sobre esse fantasma que é a culpa, que persegue, que atormenta e que aparentemente é inútil. No entanto essa colocação do médico faz aparecer o lado positivo da culpa: o comprometimento com a seriedade das nossas escolhas e ações. Busquei no “arquivo vivo” de lembranças os inúmeros momentos em que senti e sinto culpa, o esforço por me livrar dessa emoção tão incomoda e, ao assistir ao programa, descobri exatamente como essa sensação pode ser vista também de forma positiva quando a percebo como reflexo de compromisso de vida. É verdade que varias vezes essas culpas assumem um tamanho doido e exagerado mas, ao retirar o “drama inútil”, são realmente reflexo do sentimento de comprometimento com as intenções solidarias que, como muitas outras pessoas, tento manter pela vida. O remorso e o arrependimento são também faces da culpa, mas parecem não ter esse peso tão forte como o compromisso com o bem estar dos seres. O lado sinistro da culpa é quando ela é reflexo da vaidade, do apego à própria imagem, da obsessão por agradar e ser valorizado e da necessidade de se sentir perdoado; nesses casos ao ser confrontado, ao invés de investigar o assunto mais profundamente, se sente atingido, invalidado, incompleto, incapaz e acaba atraindo um tipo de prisão porque....teoricamente, pra todo o culpado existe uma punição. Essas prisões podem ser: incapacidade de resolver dificuldades financeiras, de encontrar um par amoroso, de manter um trabalho, de se auto sabotar na saúde, escolhas equivocadas, bem...acredito que você conheça ainda varias outras formas de se sentir aprisionado. Aprendendo cada vez mais sobre os 2 lados das emoções perturbadoras , agradeço ao Dr. Paulo Niemeyer ter clareado o lado positivo da culpa.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Somos filhos do desejo

Como lembra Lama Yeshe em seu livro “Introdução ao Tantra” somos seres de desejos, vivemos num mundo de desejos: “ Desde o momento em quem acordamos, até o momento em que adormecemos, e mesmo durante nossos sonhos, somos movidos pelo desejo. ........................... Nossos desejos não estão limitados por coisas que podemos ver, ouvir, cheirar, saborear e tocar. A nossa mente procura idéias com a mesma avidez com que nossa língua procura sabores. ............... Na verdade, o desejo é tão presente que é de se duvidar se existe alguma coisa que façamos que não seja motivada por ele. ................. Além de todos os nossos desejos está a vontade de sermos felizes. ................. Nenhum de nós quer o sofrimento nem menor desapontamento. Se observarmos bem, veremos que todas as nossas ações são motivadas ou pelo desejo de vivenciar coisas prazerosas, ou pelo desejo de evitar experiências desagradáveis.” São desejos de querer algo ou de evitar algo, querer alguém ou evitar alguém. Desejar faz parte da nossa humanidade, o que atrapalha é o apego que se segue ou transformar o desejo, a vontade de ser feliz em desejo ilimitado. Os apegos e os desejos ilimitados são fixações geradas pela ignorância; essas fixações estreitam a visão e se transformam em obstáculos. É ignorância tudo que rouba a liberdade, a nossa e a dos outros; seja a visão pobre da realidade, seja preconceito, ou preguiça, ou inveja, ou agressividade, ou oportunismo.... egoísmos em suas varias fantasias. Pior...quanto maior o desejo, mais irreal é a imagem que fazemos do objeto de desejo; porque o desejo ilimitado deforma a percepção e cada vez mais longe da realidade, o resultado será uma forte decepção quando a projeção se dissolver. Se o desejo faz parte do nosso ser humano, como torná-lo uma vantagem? _Escolhendo qual o objeto do nosso desejo. Pode ser por exemplo o desejo ao bem estar de outro ser através por da pratica de uma ou mais das 4 generosidades: *dar apoio material *dar proteção *ensinar o que sabe *dar aceitação Ou • Dar apoio material, sem te fazer falta; por isso não se empresta, se dá. • Dar proteção para aliviar os medos. • Ensinar o que sabe de sua própria experiência e não se omitir. • Aceitar sem julgar, sem precisar concordar. E...a maior generosidade de todas: ajudar a pessoa se sentir livre. “A quantidade de felicidade que você tem depende da quantidade de liberdade que você tem no seu coração” ThichNhatHanh

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Quando o complexo de inferioridade aparece...

“A compreensão da ausência de liberdade do outro quando se mostra agressivo vai nos impedir de rejeitá-lo. Ao contrário, teremos por ele muito mais compaixão e desejaremos, caso não possamos ajudá-lo neste momento, poder fazê-lo no futuro.” Bokar Rinpoche Ouvindo a queixa de uma conhecida sobre como resolver a vigilância permanente do marido recorri às lembranças dos ensinamentos... O complexo de inferioridade costuma ser o responsável principal pela necessidade de submeter outros aos nossos caprichos: é a sensação de sentir-se menos, buscar se defender para escapar de emoção perturbadora. Nessa busca as pessoas se transformam em ciumentos neuróticos. As desconfianças do vigilante neurótico é sintoma de que está havendo um vazio na vida que precisa ser preenchido, a falta de um projeto pessoal significativo; pode ser também o sintoma de que uma das áreas de sua vida perdeu dramaticamente o poder. O complexo de inferioridade pode ser explícito mas comumente vem disfarçado com outras mascaras conhecidas: a postura de superioridade, o desconfiado, o bonzinho, o presenteador, o mega generoso, o perfeccionista, o autoritário, o misterioso, o justiceiro, o criador de armadilhas, o popular etc etc etc Fora que quem é portador desse ciúme doentio, deforma o que vê e o que ouve; perigoso!!! Porque a vida fica povoada por fantasmas. Busque algum exemplo que conhece (ou em que você se encaixa) e observe se compreende como o complexo de inferioridade criou esse personagem. A questão depois de compreender esse jogo de controlador e controlado é descobrir como desmontar esse teatro com COMPAIXÃO através das Inteligências ( Sabedorias); um caminho é : 1- Compreender o complexo (neurótico) do outro e o que está despertando isso nele SILENCIOSAMENTE. 2- Entender o outro no mundo dele e reconhecer seus valores. 3- Perder o medo de quem está vigiando, não se deixar ameaçar pelas dificuldades, continuar na positividade e na moralidade. 4- Tomar consciência do medo de ser abandonado, da perda ( um dia todos se separarão e saberão sobreviver por sua conta) 5- Em que momento e para que foi permitido que esse jogo fosse instalado? 6- Honrar-se, valorizar-se: as pessoas só invadem nossa vida quando abrimos a porta.Mas...as pessoas podem tentar invadir nossa vida mas não precisamos nos sentir invadidos...basta manter-se estável como se fossemos uma montanha. 7- Nossa vida é preciosa, defenda-a!!!! Mas quem vigia é quem se torna auto-vigiado....quem controla tem que se controlar......e muiiiito! Ruim para quem é controlado, pior para quem controla...piedade para todos!!!!! A liberdade é um Bem precioso e direito de todos os seres. Na verdade a questão é : somos todos filhos do desejo; desejo de ter algo ou ALGUÉM e desejos de evitar algo ou ALGUÉM..... Mas isto é uma “história” para um outro dia.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Compaixão pelos suicidas

E por outras mortes inesperadas... A gente vê as pessoas vivendo ( ou tentando viver) e não imagina o que vai no coração e na história delas, no seu isolamento. Com certeza a origem forte que leva ao suicídio é a solidão. Mas essa sensação de solidão é que precisa ser investigada;me parece, no caso de pessoas que pude acompanhar seu sofrimento mais de perto, que a insatisfação crônica era uma constante companhia. Existe um outro componente é a crença que o suicídio é uma marca de família...então as escolhas que os suicidas fazem serão para validar essa crença. Mas em todos os casos o componente de vingança está presente evidente ou disfarçado; vingança pela frustração da própria incompetência em lidar com as altas expectativas somada à magoa que culpa a família por não ter sido a família que se esperava – a família que teria que prover suas expectativas emocionais e materiais.. principalmente quando deixam as cartas e recados para serem achados após sua morte. Mas, como disse Buda: vingança é uma pedra incandescente que antes de atingir o inimigo queima nossa mão. Existe também os casos em que uma perda inesperada provoca a perda da lucidez e a confusão mental. Claro que existem encenações para impressionar; mas mesmo nesses casos o ser está em sofrimento porque quem está razoavelmente bem não quer causar sofrimento e muito menos, impressionar para resgatar sua importância. Há uma regra da vida e da ética a ser respeitada e que às vezes esquecemos: o mais forte cuida do mais fraco. Assim o caminhão tem que cuidar dos automóveis, das motos e das bicicletas. Os adultos cuidam de suas crias e das crias dos outros. O mais rico cuida do mais pobre. O saudável cuida do doente. Quem está mais forte cuida do mais fraco. Quem você cuida? Ou...por quem é cuidado? Essa regra de ouro auxilia que a vida e as relações sejam mais coerentes e compassivas. Como diz SS Dalai Lama, tanto quanto nos for possível; porque infelizmente não conseguimos resolver todas dificuldades que testemunhamos, poucas vezes somos capazes de arrancar nossos amados seres irmãos de seu sofrimento. Mas...sempre podemos esticar as mãos e ficar juntos.... Mas...se o fato se consumar e a morte for inesperada, dediquemos nossas vibrações compassivas e amorosas em forma de luzes para que acalmem e iluminem esse ser e sua passagem.