sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O caminho dos sonhos

Um dos ensinamentos de Padmasambava, Guru Rinpoche, dado no Pico do Junípero das Pérolas de Cristal é sobre os 6 bardos. Bardo é um período intermediário, onde o velho não serve mais e o novo ainda não chegou. Sempre há pequenos bardos para viver: entre empregos, entre projetos, entre relacionamentos, entre a tristeza e a alegria, entre a doença e a cura...etc É um momento em que testamos o que foi aprendido, tempo de desistir de fixações e crenças e... aguardar por novas atitudes para novos passos; um tempo que precisa ser regado a muiiiita paciência! Por que?...porque tudo muda e assim é a vida.... Mas no comentário de Dudjom Rinpoche sobre esse ensinamento ele explica: um bardo é um estado que nem é aqui nem lá. Por definição é algo que começa no meio, um estado intermediário. Os seis bardos são: 1- O bardo natural da vida presente 2- O bardo alucinatório do sonho 3- O bardo da meditação 4- O doloroso bardo do morrer 5- O bardo luminoso da realidade última 6- O bardo cármico do ressurgimento O bardo dos sonhos oferece pistas interessantes e úteis sobre os obscurecimentos mentais, as emoções perturbadoras, as fixações e sobre nossos condicionamentos (marcas cármicas) a serem dissolvidos. Como ensina Robert Happé, filosofo holandês do nosso tempo: O importante é ao acordar, antes de abrir os olhos entrar em contato com as sensações dos 6 padrões mentais aflitivos ( = 6 reinos ou 6 lokas) que os sonhos deixaram – orgulho ferido/culpa , inveja/competições, estrategias/desejo e apego/ raiva, falta de comunicação, preguiça/ mal humor, insatisfação/ carências– são pistas sobre os guardados ocultos do inconsciente , recados que querem se comunicar e precisamos “ouvir sentindo”. Tomie Otake, a artista japonesa, diz que seus quadros ( essenciais e profundos) são reproduções do que “vê” ao acordar antes de abrir os olhos. Sobre o ensinamento de Padmasambava, “Bardo alucinatório do sonho”: “ O bardo do estado do sonho cobre o período desde o momento em que adormecemos até o momento em que acordamos na manhã seguinte;. Este período é semelhante à morte, a duração temporal é a única diferença. Durante o sono as 5 percepções ( dos 5 sentidos) de forma, som , cheiro, sabor e contato se deslocam para o interior de alaya (o “depósito” de nossas experiências). Pode-se dizer que elas desmaiam para dentro de alaya e, de fato, dormir é semelhante a morrer. No início os sonhos não aparecem, há apenas uma escuridão densa enquanto a pessoa afunda-se inconsciente em alaya. Depois, os padrões de apego e percepção ressurgem estimulados pela energia cármica da ignorância. Como resultado disso, os objetos dos sentidos (forma, som, cheiro, sabor e contato) manifestam-se novamente no estado do sonho. Por outro lado, a consciência não se move em direção a coisas externas. Ela se mantém dentro e suas percepções são imaginarias e deludidas. Esta é a razão de chamarmos esse bardo de alucinatório. No estado do sonhos a percepção está sujeita a delusão do mesmo modo que durante o dia. ..................... Quando na pessoa adormecida sonha, vê apenas delusões e fantasias. .................... Tanto no estado do sonho quanto acordados, as percepções não correspondem à verdadeira realidade. Ambas são falsas, flutuantes, impermanente , enganadoras. ........................... Nos constantemente nos relacionamos com as nossas percepções como se fossem realidade permanentes, pensando “isto é meu, isto sou eu”. Mas os ensinamentos nos falam que isto tudo é um erro, e este erro é o que verdadeiramente nos leva a vaguear em samsara ( o mundo da insatisfação). ................... Mas são exatamente com as nossas percepções alucinadas que temos que trabalhar.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Todos têm um pequeno Buda dentro de si

Pois é...todos têm um pequeno Buda dentro de si esperando por ser despertado, como comenta Bernardo Bertolucci sobre seu filme “ O Pequeno Buda”. Existem pessoas que estão abaixo até da linha da normose. Como explicado na wikipidea: Normose é um conceito de filosofia para se referir a normas, crenças e valores sociais que causam angústia e podem ser fatais, em outras palavras "comportamentos normais de uma sociedade que causam sofrimento e morte".Dessa forma os indivíduos que estão em perfeito acordo com a normalidade e fazem aquilo que é socialmente esperados acabam sofrendo, ficando doentes ou morrendo por conta das normoses. É comum justificar a manutenção de um comportamento não saudável por ser normal, algo que "todo mundo faz", porém essa justificativa é falaciosa e acaba apenas perpetuando uma sociedade cheia de normoses. Pierre Weil define normal como o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou agir que são aprovados por consenso ou pela maioria. Patológico é definido como algo que causa sofrimento e morte. Saudável é aquilo que gera bem-estar e qualidade de vida. Triste muito triste, pessoas sem empatia, que passam por cima do interesse de todos para prevalecer apenas SEUS interesses. Vejo esse comportamento tipo como uma doença, até como uma loucura. Todos os comportamentos que não são cooperativos e solidários caminham para esse diagnostico de doenças mentais, porque são confusos e alienados. Confusos e alienados porque não percebem que tudo está interligado e todas as ações, positivas ( cooperativas) ou negativas (egocêntricas) são causas de resultados que retornam em algum momento. A questão é: como conviver com essas pessoas? E quando a resolução de nossas questões jurídicas dependem delas? Difícil, bem difícil!!!! Em que momento agir, como agir, com que ferramenta? A loucura, da neurose à psicose, é muito inesperada, muito complicada. Quando envolve dinheiro e poder então.... Mas...eles também estão em busca da felicidade; infelizmente... por caminhos enganosos. Uma das soluções é manter uma distância cautelosa, porque ondas de freqüência de comunicação são muiiiito diferentes. A proximidade pode ser até perigosa. Outra parte é fazer dedicações e preces tipo Metabavana*,criando condições para que a ignorância ( origem de todos os males) se dissolva, a lucidez seja despertada e surja nesse “humano” a vontade e a determinação de trazer beneficio aos seres. Acima de tudo, não se deixar abalar frente as incoerências do comportamento humano e seguir na postura de compaixão, da compreensão das ignorâncias. E agir!!!! Pelos meios legais, mas agir. Agir com os 4 pilares: Com calma e estabilidade– ação pacificadora Com firmeza e determinação – ação irada Com justiça e solidariedade – ação igualdade Com pensamento de crescimento mútuo – ação incrementadora Agir, pensar e sentir acreditando firmemente que TODOS, loucos ou não, os das terras do bem e os das terras do mal, possuem um PEQUENO BUDA que cedo ou tarde despertará!!!!!! *Metabavana Que ...... alcance a felicidade e supere o sofrimento Que......encontre a origem da felicidade e supere a origem do sofrimento ( as ignorâncias) Que seus obscurecimentos mentais, suas emoções perturbadoras, suas fixações e suas marcas carmicas( condicionamentos) sejam dissolvidos e surja em......uma lucidez completa e instantânea para tudo e para todos. Que......traga benefícios a muitos seres e encontre nisso a fonte de sua Energia ( alegria)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Caminhos diferentes, 2 sugestões iguais

Uma das frases que mais me emocionaram e agora ficou presente nas meditações que faço foi a que ouvi de Henrique Lemes durante um retiro seu sobre treinamentos mentais: “reconhecer o que não muda enquanto tudo muda” Esse é o objetivo da meditação: entrar em contato com a Sabedoria Primordial luminosa de onde tudo aparece, se dissolve e se recria. Essa Sabedoria, Darmakaia, é como uma mãe.( ensinamento de Padmasambaba) Somos filhos, muitas vezes, confusos e perdidos. Encontrar essa Sabedoria dá o mesmo alívio de uma criança perdida que encontra sua mãe. A liberação final é esse encontro: a luminosidades da mãe e do filho se fundem, espaço e lucidez. Aí é possível viver os acontecimentos e os desafios com mais leveza, até com um leve sorrir. E qual não foi minha surpresa no dia da missa católica em intenção de minha mãe quando li no semanário litúrgico de acompanhamento das preces após a comunhão: “Aproveite-nos, ó Deus, a participação nos vossos mistérios. Fazei que eles nos ajudem a amar desde agora o que é do céu e, caminhando entre as coisas que passam, abraçar as que não passam.” Em todos os cantos é possível encontrar os sinais da lucidez e os lembretes da Sabedoria; basta ter a mente aberta e curiosa por ouvir e aprender.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Quando a gente não sabe, pergunta.

E isso é sinal de inteligência!!! Entre os Lamas, os Mestres Tibetanos, existe a tradição de pedir, pedir até varias vezes ensinamentos sobre o que queremos saber; talvez seja para demonstrar o interesse real. Quando estamos perdidos, perguntamos a saída ou o caminho. As preces são muitas vezes de gratidão. Outras vezes são para pedir proteção. Mas na sua maioria as preces são pedidos de respostas a algo que não conseguimos encontrar a solução sozinhos. Orar é um sinal de inteligência e, principalmente, de humildade. Existem varias formas de preces, a vários tipos de seres superiores. Mas todas vão na mesma direção; na direção da Energia Universal onde tudo é criado, essa Energia misteriosa para nossa mente comum. Somos todos (e tudo) filhos dessa Energia; e é a ela, a Energia Mãe, que nos dirigimos, quando rezamos. Como um filho perdido procurando por sua mãe. Nos ensinamentos é dito que ao morrer, quando conseguimos seguir com confiança a luminosidade, é o momento quando se fundem as luminosidades mãe e filho. Encontrei nesse texto abaixo de Elizabeth-MattisNamgyel, um bom tema de meditação e quero compartilhar com você: Nós suplicamos porque, na vida, geralmente não sabemos o que fazer. Rezar pode ser um jeito de nos entregar para o mistério e o movimento da vida. Expressa uma aceitação de que não sabemos de nada e nunca saberemos – que apenas enxergamos uma pequena parcela das coisas. Não enxergamos a teia infinita do relacionamento interconectado do qual fazemos parte. Ainda assim, por outro lado, temos nosso papel para desempenhar no todo, e tudo o que fazemos na vida é importante. Esse é um paradoxo interessante, não é? É preciso uma mente ampla para viver no coração desse paradoxo – estar alerta e receptivo, e ao mesmo tempo, aceitar a natureza indeterminada das coisas, os fatos que não sabemos. Esse é o espírito da oração. Podemos rezar por qualquer coisa. Mas para o que rezamos influencia na direção em que vamos e na natureza transformativa da prática. Rezar para a felicidade e para nos livrar do sofrimento nos mantém dentro dos limites da mente comum. As orações não têm a mesma agudeza e liberação quando estamos tentando evitar a vida e deixar de sentir o mundo em nossa volta. Se nos distanciamos do nosso desejo individual de sermos livres do sofrimento dentro do todo, onde reconhecemos que o sofrimento é parte da vida nesse corpo e nesse mundo, temos a experiência da profundidade da oração. Aceitar a beleza e a dor do nosso mundo é a fundação do caminho do Buda. Então o que significa rezar sem as limitações de nossas preferências individuais? Significa que estamos rezando para um despertar profundo e incondicional não baseado nas preferências do ego. Só em pedir nós experienciamos uma mente poderosa e humilde. Permitimos que a vida nos toque, e sentimos o desejo de seguir em frente com compaixão e amor. Quando rezamos, pode ser para uma imagem do Buda ou de nosso professor. Ou você pode rezar para a natureza de sua própria mente, como sendo inseparável da natureza da deidade. Às vezes você pode até não saber a quem direcionar suas orações, mas o pedido por si só tem seu próprio poder. De fato, se você pensar sobre isso, você realmente tem que saber de tudo? Você tem a capacidade de saber? A natureza do Buda, do professor, ou de qualquer coisa no mundo é insondável, misteriosa, e não se presta a ser conhecida de uma forma conclusiva. E é particularmente importante refletir sobre isso, porque no mundo moderno, rezar para um objeto pode parecer artificial. Podemos até querer acreditar em uma deidade ou no Buda, mas parece afetado. Um dos aspectos mais importantes e únicos dessa tradição é a compreensão de que nada possui uma existência intrínseca. Muitas vezes presumimos que nós – quem somos realmente – estamos rezamos para uma deidade imaginária. Mas na verdade, mesmo o que chamamos de “eu” surge de um complexo infinito de relacionamentos que ficam surgindo e caindo a cada momento. Tudo é imaginário, e nisso há a resistência à definição, tudo é dinâmico e aberto à interpretação – ou, em termos budistas, tudo é vazio. A oração é um meio que nos ajuda a seguir em frente com alguma sanidade – uma prática que nos ajuda a utilizar o mundo para despertar. Podemos rezar para nosso professor ou para o Buda como uma maneira de seguir em frente no nosso caminho. Não temos necessariamente que ver esse dualismo como um problema. Na verdade, enxergar o dualismo como um problema é dualista. O que chamamos de caminho é uma forma de navegar pelo dualismo utilizando positivamente nossa vida e experiências. Texto escrito por Elizabeth-MattisNamgyel, originalmente publicado na revista Buddhadharma Magazine edição de outono de 2014 e reproduzido no site da autora. Tradução de Rafaela Batista. Elizabeth Namgyel é uma das muitas mestras budistas norte-americanas contemporâneas (leia “A Face Feminina de Buda”), estuda e pratica o budismo por 30 anos sob a orientação de seu professor e marido, DzigarKöngtrulRinpoche.