quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A Beleza do inesperado

“Se as escolhas que fazemos na vida fossem sempre fáceis e confortáveis, a vida seria sempre fácil e confortável: uma existência banal, sem desafios, dominada pela rotina. Queria paixão, aventura, a incerteza e não saber o que a próxima página da vida traria.. ............................ É ao fazer que crescemos; é ao fazer que vivemos. Foi essa descoberta que mudou meu rumo: o sentido da vida é viver em busca de sentido. É no ato da busca, na experiência do novo e do inesperado, que damos sentido à nossa existência.” Marcelo Gleiser no seu livro A simples beleza do inesperado, um filósofo natural em busca de trutas e do sentido da vida

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Compulsão para compras e outros

O caminho budista pretende devolver a liberdade. Liberação das fixações, dos condicionamentos, das ignorâncias e das emoções aflitivas. Um dos passos é reconhecer os impulsos que dominam nossa vontade e transforma-los. A meditação é instrumento importante de controle da mente; no entanto, ás vezes é preciso reforços. Hoje existem vários grupos e caminhos para reforçar a disciplina. Os impulsos muitas vezes se transformam em compulsões: Compras, comida, exercícios, sexo, computador, drogas etc etc etc No entanto tudo depende de reconhecimento desse sofrimento, vontade de mudar, determinação e humildade para procurar ajuda. Paralelamente, conviver com alguém compulsivo, na confusão das aflições gera a codependência e um ciclo viciado. Se você se sente escravo da compulsão por compras ou tem alguém por perto que está se prejudicando com isso vale a pena olhar os links abaixo. http://www5.usp.br/96164/compra-compulsiva-e-problema-de-saude-e-tem-tratamento/ http://www.devedoresanonimos-sp.com.br/site/endividamento.php https://drauziovarella.com.br/drauzio/comportamentos-compulsivos/ Drauzio – Vamos falar um pouco sobre o tratamento para compulsões. Existe tratamento para uma pessoa compulsiva que faça compras ou que fique no computador 12, 14 horas por dia? André Malbergier – No que se refere às compras, há estudos sobre o assunto e uma experiência clínica maior. Em primeiro lugar, lida-se com a questão comportamental, restringido as oportunidades de acesso às compras como se faz com as drogas. Como medida inicial, procura-se reduzir e, às vezes, suspende-se totalmente o montante de dinheiro que chega às mãos dessas pessoas. Tenho uma paciente que, por causa disso, me chama de Collor e a sua mãe de Zélia, pois impedimos que tenha dinheiro à disposição, caso contrário, perderia o controle e sairia fazendo compras por aí. O objetivo dessa proposta de tratamento é fazer com que a pessoa aprenda a viver com o que ganha e a respeitar um orçamento. Pedimos que, nesse período, tente afastar-se dos shoppings e deixe de usar cartões de crédito e talões de cheque. Quanto mais pagar as compras com papel moeda, melhor. Se quiser comprar um sapato, por exemplo, pelo qual se dispõe a pagar R$ 50,00, sairá de casa levando essa quantia e talvez um pouquinho mais para tomar um lanche. O problema é que, em geral, as pessoas se sentem de certa forma humilhadas porque possuem médio ou alto poder aquisitivo, não lhes falta dinheiro, mas são tratadas como crianças. Existem alguns estudos com medicamentos antidepressivos para controle da compulsão por compras, mas sempre fica a dúvida sobre sua verdadeira eficácia. Uma das drogas é o Citalopran, um antidepressivo que vem sendo submetido a testes, inclusive comparando seu efeito com o do placebo, e que parece diminuir a compulsão pelas compras. Isso sugere que se pode associar medicação e terapia comportamental. Nos casos de uso abusivo do computador, não existem estudos – pelo menos que eu conheça – sobre a ação dos antidepressivos. Por isso, o tratamento é basicamente comportamental a fim de tentar impedir o acesso fácil e ilimitado do usuário.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Ouvir e ser ouvido

Varias vezes acontece que sei de alguma noticia ou acontece alguma coisa e tenho vontade de comentar com determinada pessoa e lembro que ela já “foi embora”; só “ela” ia entender aquela fofoca, aquele parente, aquela duvida, aquela dificuldade, aquele medo, aquele sucesso, aquela compra, aquela descoberta. Bem, como diz o ditado chinês: “o que não tem solução já está solucionado” Perder nossos interlocutores faz parte também de envelhecer. Então...é preciso encontrar uma saída. É dito que: O bom resultado das terapias acontece na medida em que a pessoa é ouvida com atenção e interesse. Nas outras relações também. As relações são tão mais íntimas quanto mais liberdade for dada no dialogo. Numa relação qualquer que seja em que há medo da espontaneidade, onde há uma ameaça de abandono caso o tema não agrade ...a situação está delicada e a solidão à vista. Acontece que se quisermos apenas nos relacionar com quem sabe ouvir...não vai dar. Então o que fazer? Plano B: * escolher outra pessoa e avisar que quer ser ouvido (a) *questionar-se de onde vem realmente a necessidade de ser ouvida: buscar aplauso, buscar apoio para julgamento, querer fama, cavar uma nova oportunidade, ou??? *guardar silêncio muitas vezes organiza porque apenas a própria pessoa conhece a história inteira. *refletir sobre que às vezes os comentários dos outros aborrecem mais do que a ausência de interesse. *há assuntos que só interessam a nós mesmos ..não aos outros... *procurar um terapeuta talvez seja uma boa sugestão Se tiver mais sugestões, mande por favor. Enquanto isso.... *abrir-se para ouvir outros.... para esperar alguém que te ouça...ajuda a levar o tempo com mais alegria

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Budismo não é terapia

Muitos procuram os treinamentos budistas orientados por profissionais da área da psicologia. Os treinamentos da meditação budista não substituem o trabalho da terapia; embora ambos tenham como objetivo promover o encontro com a natureza livre da mente e a dissolução das neuroses e dos efeitos dos traumas. O treinamento budista tem como base fundamental a meditação. Terapia pode ser facilitada pela meditação; meditação pode se beneficiar da terapia. Há 2 momentos na meditação: concentração ( atenção) e conscientização ((perceber-se). Na concentração aprendo a focar, numa imagem, numa flor, numa pedra, na ruga do lençol, na mancha do tapete etc Na conscientização o foco é no reconhecer o que estou sentindo, nomear e localizar no corpo essas sensações. Temos um cérebro que pensa, raciocina, planeja, lê, escreve, memoriza etc = mente grosseira Temos uma mente sutil que sente. Temos uma mente muito sutil (secreta) que está além dos sofrimentos, uma mente já livre e luminosa, essência da vida, que quer se expressar sem fronteiras. Aprendo a estabilizar no silêncio a mente grosseira, os pensamentos e onde quero colocar o foco – domestico o cérebro. Depois, treino conscientizar no silêncio o que o corpo sente através da atenção na respiração, as sensações que surgem. Com estes 2 exercícios surgem insights das fixações, das aflições, das marcas mentais e dos obscurecimentos mentais - temas sobre o que trabalhar em terapia e no autoconhecimento. Na dissolução desses véus vou despertando minha verdadeira natureza livre e a mente muito sutil se expressa na alegria para o beneficio de todos os seres.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Nas tempestades da vida

“No meio da tempestade da vida, encontre refúgio em si mesmo” Thich Nhat Hanh A morte é uma realidade que tira a estabilidade; principalmente quando ela é repentina. Quando ela é uma escolha. Um susto. Nessa hora é preciso encontrar um refugio e o lugar mais seguro deveria ser dentro de si mesmo.Deveria... A vida é como um oceano e vez por outra, o mar fica turbulento, ondas se levantam; as águas mudam de cor. Mas depois, vai se acalmar novamente. Encontrar esse lugar seguro muitas vezes é difícil porque a dor turva a vista e fica difícil encontrar a porta; nessa hora o caminho da espiritualidade é o melhor aliado, como disse a amiga Leia abraçada a mim enquanto eu chorava: que bom ter um caminho espiritual para se apoiar. Isto não estava nos planos; aliás...a morte “prematura”, nos nossos planos ( mesmo na terceira idade) nunca está nos planos. Na verdade eu chorava o choro que estava segurando há dias ou... anos; chorava pela falta de dialogo, pelos desencontros, pelos mistérios, pelo que não foi possível. Penso que chorava de cansaço de uma estrada que tinha tido vários buracos inesperados, encontros e desencontros. Uma estrada que finalmente tinha chegado ao seu final inesperadamente. Mas chorava também de gratidão pelas descobertas e experiências importantes que um casamento sempre oferece. Quinze dias já passaram; apoiada por varias sessões de Reiki , mantras e pelas “poções mágicas de Sabedoria ( Sophia)” , a serenidade está voltando, o susto se acomodando , silenciosamente, já me faço boa companhia e vou “voltando para casa”. Não há mais explicações para esperar, nada a reclamar e nada a desculpar. Realmente, o melhor refúgio é dentro da casa que construo e reconstruo a cada episódio em mim mesma. Como disse o neto Thiago: vida que segue! Tudo é um fluxo constante.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Nada é sempre igual

Durante nosso encontro semanal a amiga Silvia comentou que nestas quase 2 décadas que mora perto do mar, a praia é diferente todos os dias. Realmente. Nem a praia nem nenhum dia, nem nenhuma ida a padaria comprar pão, nem nenhuma revisita ao dentista, nenhuma manhã, nenhum entardecer, nenhuma viagem de elevador, nenhum sonho noturno, nem eu nem você. A vida é mudança continua. Tudo é novo a cada momento. Acordamos todos os dias já diferentes. Os outros acordam todos os dias diferentes. O que precisa permanecer é a curiosidade em descobrir o que mudou. Um olhar de interesse.Dar uma chance para o novo. O budismo fala: dar espaço para o novo. Não tentar fixar as coisas, nem as pessoas, nem nós mesmos nas mesmas bolhas. Vivemos e a vida vive, em bolhas de histórias; todas vão estourar, umas demoram mais porque revestimos suas paredes com material de sonhos mais rígidos, mas elas com certeza, mais cedo ou mais tarde vão estourar. Bolhas estouram, outras surgem, sempre surgem, novinhas repletas de novidades para descobrir, viver e largar. A brincadeira é essa, esperar pela próxima enquanto vamos tentando descobrir a verdadeira natureza de todas as coisas, a natureza livre de tudo e de todos. Como diz na sadana que usamos para fazer a dedicação final durante os encontros: Possa eu claramente perceber todas as experiências como sendo tão insubstanciais quanto o tecido do sonho durante a noite e imediatamente despertar para perceber a manifestação de sabedoria pura no surgir de cada fenômeno.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Cuidado com as decepções

Aprendemos a ter expectativas desde cedo; elas são um perigo.... Expectativas sobre as pessoas, sobre as promessas, sobre sonhos e desejos. Um dia descobrimos que a vida é uma linha contínua e impermanente... vai mudando, mudando, mudando e seguindo rumos inesperados muitas vezes. Lembro de um Mestre carismático, lembro de um romance promissor, lembro de uma carreira colorida, lembro de uma visita muito esperada, lembro de uma mudança que seria muito divertida e enriquecedora, lembro de muros, lembro de paredes grossas, lembro de ferias ensolaradas libertadoras, lembro da herança prometida, lembro do trapézio seguro... que simplesmente viraram...pó de lembranças amargas. A culpa? Das minhas expectativas; das nossas expectativas. E o que fazemos com as decepções que chegam junto? o que fazemos com essas raivas? Raivas quentes – chorar, reclamar, quebrar, agredir. Raivas frias – engolir, calar, vingar, separar, disfarçar, sumir. Melhor acolher; entender que a vida é cheia de surpresas, que muitas vezes esses “desastres” estão nos ensinando e nos protegendo. Expectativas fazem parte de nossa humanidade; mas faz parte também, aprender a se despedir dos nossos doces sonhos. Recuperar a liberdade e autonomia que chega quando as raivas são dissolvidas. Libertar os “culpados” para o caminho ficar mais leve e divertido. E.... nos preparar para os próximos sonhos, novos amores, próximos projetos que só chegarão quando estivermos prontos para novas decepções....se chegarem.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Hora de desistir

Minha mãe foi uma pessoa, na minha visão, que levou a vida de forma bastante rígida. Anos antes de sua morte comentei que eu via varias mudanças em suas atitudes e palavras, respondendo de forma mais leve às situações. Ela abaixou a cabeça, silenciou alguns instantes e respondeu:”não mudei, eu desisti.”..... Essa palavra, desistir, causou uma marca forte no meu coração. Talvez seja inteligente desistir da rigidez mais cedo, tornar a vida menos confusa. Daí refletindo dá para alargar um pouco essa ideia: • Desistir de tentar controlar a vida e os outros • Desistir de ter sempre razão • Desistir de precisar da aprovação dos outros • Desistir de querer “aparecer sempre bem na fita” • Desistir de defender nossas propriedades e limites

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Sangha - amigos praticantes

Sangha é um “grupo de apoio” onde nos refugiamos para mergulhar em nós mesmos e tentar compreender as complexidades da vida e das confusões que nos rodeiam. Por isso ela é uma das 3 preciosidades; as outras são a busca pela compreensão (Darma) e Buda como figura de inspiração. Ensinamentos de 2 grandes Mestres: Thich Nhat Hanh e Lama Yeshe “A Sangha não é um lugar para se esconder de forma a se evitar responsabilidades. A Sangha é um lugar para praticar, para a transformação e a cura do ego e da sociedade. Quando você é forte, pode estar presente de forma a ajudar a sociedade. Tomar refúgio na Sangha ajuda restabelecer sua força, seu entendimento, sua compaixão, sua confiança. De forma a conseguirmos desenvolver algumas raízes, precisamos de um tipo de ambiente que nos ajude a nos tornar enraizados. Quando praticamos respiração consciente, sorrindo, descansando, andando ou trabalhando, nos tornamos um elemento positivo na sociedade e inspiraremos confiança em todos ao nosso redor. Este é o caminho para evitar deixar o desespero nos derrotar. Estar em uma Sangha e ser apoiado por um grupo de amigos que estão motivados pelo mesmo ideal e prática, ajuda ir mais longe. Ter uma Sangha que nos dê suporte, ajuda nutrir nossa bodhicitta (o desejo forte de cultivar amor e entendimento em nós mesmos). A Sangha é o solo e somos a semente. Não importa o quanto seja bonita e vigorosa nossa semente, se o solo não nos provê vitalidade, nossa semente morrerá. Se ficamos muito tempo longe da Sanga, o ambiente com suas muitas distrações, nos leva para “longe” de nós mesmos e dos outros. Porque a atenção plena correta para alguém que apenas começou na prática é ainda fraca. Como a maioria das pessoas ao nosso redor é levada pelos cinco desejos, é este ambiente que nos arrasta e nos impede de praticar a atenção plena correta. Para praticar a atenção plena correta precisamos de um ambiente correto e este é a nossa Sangha. Sem uma Sangha, somos fracos. Em uma sociedade onde todos estão correndo, todos estão sendo levados pelas suas energias de hábito, a prática é muito difícil. É por isso que a Sangha é a nossa salvação. Uma Sangha onde todos estão praticando a caminhada atenta, fala atenciosa, alimentação consciente parece ser a única chance para termos sucesso para terminar o círculo vicioso. Seja quando for que nos encontremos em uma situação difícil, dois ou três amigos na Sangha estão lá para nós, entendendo e nos ajudando e nos farão superar tudo. Mesmo na nossa prática silenciosa, ajudamos uns aos outros. Na minha tradição dizemos que quando um tigre deixa a montanha e vai ao vale, será capturado por humanos e morto. Quando um praticante deixa sua Sangha, abandona sua prática depois de alguns meses..” (Traduzido do livro “Friends on the path” – Thich Nhat Hanh) __________________________ “Estar junto com outros praticantes e concentrar nossa mente no mesmo espaço nos dá uma grande inspiração. É muito melhor fazer pratica junto (puja) do que sozinho no nosso quarto. No meu colégio se comparava um grupo de puja a uma vassoura de palha. Você não pode varrer muito chão com apenas um fiapo de palha, mas com vários amarrados para formar uma vassoura, você pode rapidamente limpar a sala da assembleia inteira. Embora vários praticantes solitários como Milarepa tenha tido sucesso sós, nós ainda não estamos prontos. É melhor que estejamos juntos para desenvolver o foco da mente. A mente de cem pessoas reunidas num mesmo lugar é muito poderosa.” Lama Yeshe

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

14 conselhos par se tornar um Iogue do Cotidiano

Buda disse que o Budismo é como uma canoa que usamos para cruzar o rio da existência: de um a lado estamos na margem do Samsara – o mundo da das fixações, do outro o Nirvana – a liberação da mente. Ao chegar na outra margem, saltamos, soltamos a canoa e seguimos. Um dos conselhos é evitar fazer como o macaco que pula de galho em galho, pensando que está aproveitando e conhecendo mas está apenas se distraindo....aflito.... O tempo é curto. Melhor escolher um caminho e seguir até não mais aprender, serenar e tornar-se um Iogue do cotidiano. Inspirada pelos retiros em que Lama Padma Samten repasso seus conselhos e de outros Mestres Budistas resumidos assim: 1 – tomar refugio em lugar seguro: na verdade, num ensinamento sagrado e na mente iluminada =minha verdadeira natureza budica 2- gratidão e devoção aos Mestres que encontro no caminho 3-evitar me abalar pelas situações negativas= reconhecer o aspecto cíclico da existência 4-Metabavana= curar as relações com outros e comigo 5- Compreender o outro no mundo dele 6- Cultivar olhar de Tchenrezig= como ser útil para tirar o outro da situações de insatisfação. 7-Cultivar a atitude de Vajrasatava= transformar negatividades em vantagens 8-Simplificar as necessidades materiais 9- Cuidar da saúde para ensinar a cuidar da saúde 10- Cultivar uma pratica espiritual regular 11-Reconhecer e transformar ar fixações, padrões mentais condicionados de: raiva, vaidade, inveja, apego ilimitado, e visão preconceituosa 12-Evitar transmigrar, mudar, mudar, mudar. 13-Manter o sorriso, a liberação pelo sorrir

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

O silêncio dos suicidas

Setembro é tido agora como o mês amarelo numa sugestão de tirar o silêncio sobre o tema do suicídio. Suicídio é a morte pelas próprias mãos e isso assusta. Assusta porque essa situação lembra, ou parece lembrar, o fracasso da família e dos amigos. Tive essa história na família além de ter testemunhado de perto algumas outras histórias de suicídio e tentativas mal sucedidas; que tristeza....não conseguir ter sido útil para dar um significado para a vida dessas pessoas. Uma dessas experiências foi saber do suicídio de um praticante budista na altura das festas de final de ano. No Budismo se acredita que o caminho que a consciência – o continuum mental - segue depois da morte é a continuidade das sensações com que se morre. Na hipótese dessa ideia ser verdadeira, a solução do suicídio não seria a melhor solução, bem ao contrario. Perplexa, perguntei a Lama Michel a explicação do que leva um praticante da filosofia budista próximo aos Rinpoches cometer tal ato. Na sua resposta explicou que esse praticante embora parecesse praticar o Budismo não havia realmente corporificado a filosofia. Um dos treinamentos do Budismo é despertar a bodichita, a alegria por beneficiar outros seres. Suicidas estão sofrendo tanto trancados em suas bolhas de aflição que não conseguem fazer despertar essa alegria, olhar para outros seres e fazer a diferença onde vivem. O tabu do suicídio é “irmão” do tabu da morte; mas é preciso conversar sobre isso corajosamente. Não estamos treinados, nem os médicos estão, a dar importância aos sinais que apontam esse caminho. Antonio Geraldo da Silva, psiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria, comenta que 70% dos suicidas procuraram um profissional de saúde para tratar de alguma “doença” mas a doença da sua alma não foi diagnosticada – foram procurar ajuda, “avisaram” mas não foram ouvidas. Por que será que essas pessoas acreditam que só a morte será a melhor forma de escapar da dor da solidão, das decepções e auto-cobranças ? Onde será que a esperança morreu para elas? O que faz suas bolhas de aflições ser tão solidas que ele não consegue estoura-las? Claro que existem os transtornos de humor, os vícios, os estados mentais confusos que roubam a lucidez. Para isso existem medicamentos e acompanhamentos terapeuticos. Então ...esse mês é um alerta para conversar e perder o medo de falar sobre esse assunto. Aprender a ouvir as tendências suicidas, o quanto de auto-centramento existe nessa postura, o quanto de vingança talvez o suicídio carregue. OUVIR sem julgar é uma prática espiritual. Suicídio é também se tratar mal; observe como está cuidando da tua preciosa vida humana. Você está precisando conversar?

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

A maior negociação é com você mesmo

Wiliam Ury é um negociador, mediador de conflitos, com vários sucessos mundiais em varias questões graves – com as FARCS, nas disputas de governo de Hugo Chaves, nas questões dos grupos ligados ao empresário Abílio Diniz,acordos entre Síria e Turquia, dilemas da Guerra Fria entre EUA e URSS, na luta incessante nos tratamentos pela saúde de sua filha etc Agora ele fala sobre como ser o próprio mediador com nossos conflitos e duvidas e dizer SIM a nós mesmos. Termino de ler seu último livro “ Como chegar ao SIM com você mesmo”. Encontro vários pontos comuns de suas 6 lições de negociação com as propostas no treinamento de alguns ensinamentos budistas. Ou seja, *encontrar o equilíbrio entre: nosso lado esquerdo do cérebro “masculino” - linguagem, lógica, tempo, julgamento, certo/errado, detalhes, fronteiras, diferenças/separações. E nosso lado direito de cérebro “feminino” – senso de conexão com a vida e com os outros, semelhanças, momento presente, panorama mais amplo, compaixão, abertura, solidariedade. * o que buscamos com o nome de felicidade é proteção para se sentir seguro porque a vida é insegura e sentir conexão/ amor suficientes. *reconhecer como a felicidade que esperamos é dependente da liberdade que buscamos. Essa mesma busca pela liberdade quando realizada por caminhos não generosos provoca as confusões. *o medo de escassez é um padrão muito forte no ser humano; dar e receber, generosidade, resolve vários conflitos .A generosidade é o melhor caminho par a felicidade. *gratidão, ter um olhar apreciativo para a vida, amplia a visão do caminho. * chegar na natureza, ouvir uma boa musica, observar movimentos das artes, proporcionam senso de conexão com a vida; são como ir ao “topo da montanha interior”, e ajudam a descobrir nossas necessidade fundamentais. *passo importante: abandonar o jogo da culpa e assumir a responsabilidade de cuidar das próprias necessidades. * “as pessoas se prendem mais a seus fardos do que seus fardos se prendem a elas” Bernard Shaw * “ nada pode me ferir ( ferir a minha essência de vida), não importa o que aconteça” Wittgenstein

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Conselhos simples para meditar

Conselhos simples e eficazes do Mestre Sogyal Rinpoche, experimente: “Se sentir que a meditação não acontece com facilidade na sua sala, seja criativo e vá para a natureza. Natureza é sempre uma infalível fonte de inspiração. Para acalmar sua mente, saia para uma caminhada no parque ao amanhecer ou observe o orvalho numa rosa do jardim. Deite-se no chão e olhe fixo para o céu e deixe sua mente expandir no espaço. Deixe o céu externo despertar o céu interno de sua mente. Fique em pé ao lado de um riacho e misture sua mente com seu correr; torne-se um com seu som incessante. Sente-se ao lado de uma cascata e deixe seu “riso” curativo purificar seu espírito. Caminhe na praia e tome em cheio na sua face o doce vento do mar. Celebre e use a beleza do luar para equilibrar sua mente. Sente-se na beira de um lago ou num jardim, respire com calma, deixe sua mente cair no silêncio à medida que a lua surge majestosa e lentamente na noite sem nuvens.”

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Melancolia é uma doença

Segundo Freud: “ melancolia é o amor por objetos perdidos.” Assim ouvi de filósofo Wladimir Safatle. Como se houvesse realmente um poder nos melancolizando, fazendo uma coerção psicológica. Melancolia por projetos frustrados, objetos perdidos, seja quais forem esses “objetos”, a sensação que você não consegue superar. A melancolia pode aparecer como abatimento, choro, aperto no coração, insônia etc etc etc A melancolia é reflexo de desequilíbrio na energia interna que sustenta a vida , o desequilíbrio no fluxo das energias, soglung na filosofia budista. A fixação em “objetos perdidos” engessa em melancolia. Como quebrar esse gesso? Fazendo um luto inteligente, “dissolvendo” o poder das perdas é possível escapar da armadilha da melancolia e se reinventar. A melancolia generalizada produz impotência, falência, mais fracassos porque impede que o individuo realize seu potencial. Fazer o luto, encerrar os capítulos, acomodar as lembranças, olhar para frente e despertar novos potenciais ajuda escapar dessas armadilhas afetivas. Recriar um olhar de bondade alegre e... seguir com coragem!

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Sorrindo para o medo #9 final

(inspirado nos ensinamentos de Chogyam Trungpa Rinpoche) Se quiser ler mais sobre os 9 textos que foram enviados: “Sorria para o medo” de Chögyam Trungpa, Ed Gryphus Continuando: Existe um princípio em tibetano que recebe o nome de Ashe (a-shay);A = primordial, She= força vital. Ou, Ashe= fonte de poder. Esse princípio existe em nós como um poder e possui a força de eliminar neuroses desnecessárias. Ashe manifesta a bondade fundamental através de sua força e poder de corte do desnecessário. Esse poder se apresenta em aspectos do mundo relativo e absoluto. Como poder relativo é a coragem cortando a covardia, a falta de humor, a insatisfação. A lâmina de Ashe corta o medo. “O princípio de Ashe reside em seu coração, seja você covarde ou corajoso. É sinônimo de bondade fundamental e é uma manifestação da bondade fundamental. Esta em nosso corpo, em nosso coração, em nosso cérebro, em nossas veias, em nosso sangue, em nossa carne. Todos nós possuímos o principio Ashe, o sentido da mágica constante que há em nós. A única coisa que precisamos fazer é reconhecê-la.” Ser apresentado ao princípio Ashe e reconhecê-lo desperta para uma nova dimensão da vida, com brilho e vitalidade. Esse poder se apresente também no nível absoluto, é a não existência, ausência de fronteiras, de separatividade, como espaço ilimitado e aberto com qualidades indestrutíveis. Ashe está em você , está no Cosmos, é o não-ego, imóvel e firme; união do céu (lucidez) e terra ( praticidade). Ashe nos permite: * cultivar a qualidade do sagrado na vida * apreciar o que somos e onde estamos com uma mente alegre e corajosa frente às duvidas. *se libertar das fixações *apreciar o mundo e viver em paz *cultivar uma bondade desprovida de agressividade *cultivar um estado positivo de ser *manter o senso de humor “A dor gera o caos, o medo e o ressentimento e temos que superar isso. É uma lógica bem simples, Quando superamos o medo, descobrimos a alegria intrínseca e passamos a ter menos ressentimento em relação ao mundo e a nós mesmos. Ao estar de modo natural, temos menos ressentimentos. Quando ficamos ressentidos, transportamo-nos para outro lugar, porque estamos preocupados com outra coisa. Ser guerreiro é estar simplesmente aqui sem distração, nem preocupação. E quando estamos aqui, ficamos alegres. Podemos sorrir para nosso medo.” “Todos nós fazemos parte da mesma família humana. Vamos sorrir e chorar juntos.”

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Sorrindo para o medo #8

(inspirado nos ensinamentos de Chogyam Trungpa Rinpoche) Continuando: “A coragem é como um reservatório de confiança; essa confiança provem da experiência da bondade fundamental que existe em nós, em todos nós.” Quando nos sentimos realmente bons, no sentimos confiantes e queremos ter intimidade com a realidade. Confiança é estar disposto a correr riscos; se expor para correr riscos sem se sentir só e inseguro. Então, o fracasso por em equivoco ou o sucesso por uma ação disciplinada, não precisa de punição nem de recompensa. “ se você é muito arrogante vai acabar batendo a cabeça no teto; se é muito tímido vai rastejar pelo chão” “A analogia tradicional é a de que sua postura deve ser como a de um rei ou uma rainha sentado no trono, se falando de um monarca iluminado” Ou seja, mente e corpo sincronizados. “A coragem surge do medo. A lógica é bem simples. Você pode perguntar por exemplo, por que alguém toma banho. Você toma banho porque se sente sujo. Não fica inspirado para tomar banho apenas porque há roupas limpas no armário. Podemos dizer que a bondade fundamentar é como as roupas limpas no armário. É ótimo saber que estão lá, mas nem sempre é motivo suficiente para fazer você tomar banho. A sujeira é que faz realmente com que você tenha vontade de se lavar. Da mesma forma, a coragem surge do medo.” “A coragem é poderosa e envolve amabilidade, mas também envolve solidão e tristeza. “ Mas sem drama! Tudo se mistura mas não intimida. “Sabedoria e consideração fazem parte da coragem.” A coragem nos permite ser mais disponível e generoso porque não sentimos medo do fracasso ou da não recompensa.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Sorrindo par o medo #7

(inspirado nos ensinamentos de Chogyam Trungpa Rinpoche) Continuando: Os casulos que criamos são muros que o Ego constrói para se defender das ameaças , dos medos, para se fechar aos outros; quando alguém se aproxima demais e ameaça os muros, a agressividade aparece. A atitude contraria e´AHIMSA, ou não violência. A atitude correta de lidar com as desculpas para nos mantermos nos casulos é sorrir para os medos e ser amigável com eles, ser não violento. Essa atitude amorosa é MAITRI, bondade amorosa; fazer amizade com as ameaças ou com quem nos sentimos ameaçados. Isso significa se envolver verdadeiramente com as situações. Existem 3 causas para os medos: ignorância, apego e aversão. Ignorância de não saber ou de saber equivocado, ou acreditar na opinião dos outros – medo de perceber a realidade pela própria experiência - não perceber a realidade. Apego ao que temos. Medo de perder. Aversão ao que queremos afastar. Medo do que não gostamos e se aproxima.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Sorrindo para o medo #6

(inspirado nos ensinamentos de Chogyam Trungpa Rinpoche) Continuando: Temos uma mente temerosa, como cita Trungpa, e muitas vezes parece confortável se encerrar num casulo de ilusoriamente confortável. Quando conseguimos abandonar esses casulos tratamos com amabilidade os que ainda se enclausuram ou constroem defesas: doenças, desculpas, tristezas, fraquezas e medos, muitos medos. Ao tira-los de lá delicadamente oferecemos o colo da amabilidade e não nos abalamos por terem,talvez, ficado perturbados. Quando não somos nós que os tiramos, ou que saímos, a própria vida se encarrega disso... um dia. Treinar sair pela confiança e coragem lentamente do casulo talvez seja mais inteligente, mas sair é vital. Essa liberdade conquistada pela coragem, é alegre e luminosa e a mente começa a relaxar. “O caminho da coragem começa pela descoberta do medo” Existem 3 ferramentas para descobrir sobre os medos: disciplina (força) meditação( espelho) e lucidez (compreensão). Comece o treino por um medo pequeno. Desperte disciplina e deseje querer renunciar a esse medo. Depois sente em silêncio e dê colo para esse medo. A seguir encare-o até que o compreenda e veja seu real tamanho: qual o nome desse medo? esse medo é teu mesmo? o que realmente pode acontecer? só você tem esse medo? Qual o final dele?

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Sorrindo para o medo #5

(inspirado nos ensinamentos de Chogyam Trungpa Rinpoche) Continuando: A coragem que surge quando cuidamos dos medos está diretamente ligada a nossa força de abandonar a preguiça. Pense nisso. A preguiça pode se manifestar de varias formas: não sou capaz, faz pra mim, estou muito ocupado ou ocupado em se distrair. “A busca pela distração para acalentar o tédio se legitima como preguiça. Essa preguiça na verdade envolve enorme esforço. Você tem que estar sempre agitando as coisas com que se ocupar.” Tudo de forma superficial para não entrar em contato com a fragilidade. Para o corajoso é importante desistir do prazer da distração; sejam elas frivolidades ou atitudes agressivas e medrosas. Essa coragem permite alcançar uma visão mais livre e mais vasta. Despertar a coragem que já existe e pode estar adormecida facilita ter a experiência do sagrado na vida: a energia do Sol com lucidez na cabeça e a energia da Lua com a amabilidade no coração. A verdadeira coragem é lucidez + amabilidade + determinação; e em primeiro lugar consigo mesmo. A verdadeira coragem nos torna guerreiros, guerreiros com bondade amorosa.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Sorrindo para o medo #4

(inspirado nos ensinamentos de Chogyam Trungpa Rinpoche) Continuando: Terminamos o texto anterior refletindo sobre “limpar o lixo” para ver a realidade como ela é e nos liberar dos medos. Às vezes dá preguiça de pensar nessa tarefa, mas continuar com os medos e seus disfarces também não é nada agradável. Trungpa alerta que um passo importante é aliviar a ideia da importância da privacidade; privacidade no sentido de se refugiar dentro de si mesmo para se esconder e esconder os medos que nos assustam não é um caminho que vai acabar bem. Mas essa fuga na privacidade vai bombardear com emoções aflitivas que não deixam relaxar. Por outro lado no caminho do guerreiro corajoso que vence a covardia e os medos também não há necessidade do aplauso dos outros. Outro passo importante é reconhecer a bondade que já possuímos. Essa bondade é sinônimo de coragem. ...... “A bondade está sempre lá. Sempre que vê uma cor reluzente e bela, você está testemunhando sua própria bondade intrínseca. Sempre que escuta um som belo e suave, você está escutando sua própria bondade fundamental. Sempre que prova algo doce ou amargo, você está experimentando a sua própria bondade fundamental. Se você está numa sala, abre a porta e sai ao ar livre, sente uma súbita brisa de ar fresco. Essa experiência pode durar apenas um segundo, mas esse aroma de ar fresco é o cheiro da bondade fundamental. Coisas assim sempre acontecem mas você costuma ignora-las, pensando que são coisas mundanas e sem importância, meras coincidências da natureza nada excepcional. No entanto vale a pena aproveitara qualquer coisa que lhe aconteça que tenha essa particular natureza da bondade.” Descobrir nossa bondade interna é descobrir ouro. E todos, todos mesmo, têm essa bondade não agressiva dentro, é apenas uma questão de descobri-la. Essa bondade é nossa verdadeira natureza búdica. Foi a tua natureza búdica, tua natureza primordial, que te trouxe até aqui. Mais uma vez: a meditação é a forma de descobrir nossa bondade, nossa verdadeira natureza primordial, nossa honestidade.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Sorrindo para os medos #1

Estou lendo e refletindo sobre os ensinamentos que Chogyam Trungpa Rinpoche deixou em seu livro “Sorria para o medo”, o despertar do autêntico coração da coragem. Chogyam Trungpa, foi um mestre budista moderno dos tempos atuais, nascido no Tibet e depois da sofrida fuga viveu no ocidente ensinando o Darma. Nunca mais voltou ao país em que nasceu, nem reviu sua mãe e sua família. Apesar desse sofrimento não deixou de ter compaixão por quem provocou essas dores e compartilhou durante sua vida a coragem compassiva, base dos ensinamentos budistas. Durante essa fuga de 10 meses num grupo de 300 pessoas, das quais só chegaram 50, as restantes foram capturadas antes de chegar à Índia.O que não faltou foram ameaças e desafios; com certeza, o medo foi um Mestre para despertar a coragem espiritual neles. Vou transcrever neste e nos próximos textos algumas de ideias bastante significativas desse seu livro. Entendo que as inquietações que nos incomodam são geradas por medos claros e por aqueles nem tão claros. Varias vezes damos outros nomes para o medo : inveja, ciúmes, irritação, preconceito, ansiedade, depressão, dependência, vício, solidão, vergonha, culpa e...a família do medo é bastante populosa. Descobrir como o medo atua na nossa vida e nas nossas relações é desafiador e a descoberta é fascinante porque nos liberta. O Mestre fala em sorrir para o medo, não sentir medo de sentir medo. Assim Rinpoche começa: “Quando você se sente amedrontado, você tem que lidar com o medo, examinar o porquê de estar amedrontado e desenvolver uma certa confiança. Você pode na verdade olhar para o medo. E então, o medo deixa de ser a situação dominante que vai derrotá-lo. O medo pode ser conquistado. Você pode se libertar do medo, perceber que o medo não é o ogro. Pode pisar no medo e assim será capaz de alcançar o que é conhecido como coragem. Mas para isso é preciso que, ao se deparar com o medo, você sorria” Chogyam Trungpa, O Sol do Grande Leste E como ele vai ensinar a fazer isso? Seguimos na próxima semana.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

A Sabedoria de dar ou não dar.

Chega a mensagem no whatsapp: “quando tiver tempo me ligue.” Você já sabe que aí vem problema: pedidos. “O dinheiro deste mês acabou;estou sem pagar a luz e o condomínio. Será que você tem R$ 1000,00 para me emprestar, nem consegui comprar os remédios;te devolvo no mês que vem.” Você sabe que esse dinheiro não vai voltar . Quando a gente não tem, já está resolvido. E quando você tem sobras poupadas? Aí fica a duvida, se dou, alimento a desorganização do outro; se não dou, o que faço com minha culpa na hora que testemunho a dificuldade e a confusão do outro? Poderia ser assim: *tentar não deixar abalar pelo pedido, nem pela raiva, nem pela culpa, nem pela dó. * emprestar só se você puder dar e não for fazer falta, sem expectativa de receber de volta. * qual a origem dessa falta de dinheiro? Um vício, uma situação inesperada, desorganização, oportunismo, hábitos caros, carência...mais o que? Entrar no mundo do outro faz brotar a compaixão. * na verdade, muita compaixão por esse ser, porque depender de outra pessoa para sua sobrevivência é sofrimento. Talvez ouvir as explicações como um espelho. * acolher a duvida, deixar o pedinte ficar no sofrimento ou aliviar? *Se for possível, alivie. Tentando não julgar: hoje é ele, amanhã pode ser você. Ele pede dinheiro, e incomoda mais do que se fosse comida, afeto, carona, roupa etc Porque quando se dá dinheiro , não se controla o prazer que o outro vai ter... Todos nós fazemos o melhor que sabemos, movidos por nossos condicionamentos mentais; cabe a cada um unicamente, encontrar suas soluções ou suas anestesias. Todos nós já sabemos quanto a falta de dinheiro escraviza e o quanto conseguir pagar a vida proporciona liberdade... Ninguém ensina, é a pessoa que aprende a viver melhor se quiser, quando quiser , como quiser e com quem quiser...no tempo dela. Prepotência acreditar que ensinamos dando lição de moral; no máximo deixamos exemplos. Uma vez... estávamos na sala de praticas, no Gompa, em São Paulo, era noite, sentados no chão, portas abertas e entrou um mendigo. Aproveitando uma pausa nos ensinamentos de Lama Caroline, largou sua sacola maltratada no chão e, numa voz chorosa, começou seu discurso sobre sua miséria, suas necessidades e pedidos. Lama Caroline manteve a calma, sem nenhum sinal de julgamento, abriu sua bolsa retirou um dinheiro e, com voz serena, olhou para nós e apenas disse: “se você tiver o que dar, dê, senão tudo bem.” E no mesmo momento, como se nada tivesse acontecido, Lama Caroline continuou seus ensinamentos calmamente. O mendigo, recolheu os dinheiros das mãos estendidas, pegou sua sacola e saiu silenciosamente. “Dar por dar, é uma arte”...sem esperar resultado. "A iluminação, na tradição budista, é o poder de ajudar todo aquele que nos vir, ouvir, tocar ou se lembrar de nós. Tal benefício é espontâneo, incessante e desimpedido." — Chagdud Tulku Rinpoche

sábado, 4 de junho de 2016

Para receber Reiki

Reiki é um mergulho no nosso mundo interno. Um caminho silencioso a partir de leves toques das mãos. Durante 30 minutos você não precisa resolver nada, apenas descansar e encontrar a tua verdadeira natureza. O Centro Budista de Santos já está oferecendo Reiki. A sugestão de colaboração é R$ 20,00 Ligue para agendar um horário.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Como lidar com o complexo de inferioridade dos outros?

Talvez um caminho razoável seja aprender a reconhecer esse complexo em nós mesmos. Ou...reconhecer no outro ajuda a aprender reconhecer em nós. Existem vários mecanismos de defesa par tentar sair da situação de sentir por baixo e criar estratégias para se mostrar por cima ou, para se sentir por cima. Mas tudo isso é falso. Todas as estratégias criadas apenas engessam as identidades que criamos para sobreviver. Elas criam um personagem. Essas estratégias podem ser de reclusão e distanciamento ou de auto exposição para receber o foco dos holofotes. O complexo de inferioridade e o de superioridade são o mesmo; o primeiro constrói uma escada para agregar valor reforçando a caricatura do agressivo, do autoritário, do sabe-tudo, da feminista, enfim, todas as bandeiras exageradas principalmente em direção aos ( que acredita)inferiores. O de superioridade se separa, empina o nariz, se acha especial e luta para ser especial, demonstrando grifes, contando vantagem etc Reduzidos a um denominador comum, ambos são sofredores aprisionados por modelos falidos. Buscar a naturalidade é o mais confortável, o mais libertador. Sou quem eu sou, apenas isso. Quem gostar, que goste ou não. O apego à própria imagem é a origem desse tipo de sofrimento; imagem de funcionário perfeito, do profissional eficiente, , da mãe esmerada, da mulher vaidosa, do humano politizado, do praticante mega dedicado, do ricaço, do intelectual hermético etc etc etc ou,,,,do super doentinho, da vítima, do perseguido, do injustiçado, do discriminado, do traído, do dedo podre etc etc etc Na verdade esses complexos sobrevivem para uma plateia, para impressionar alguém ou muitos...quanto tempo precioso perdido.... Imagine viver num lugar sem plateia, sem precisar lidara com a opinião dos outros....que alívio!!!! Viver livre das prisões, dos condicionamentos. Então...para lidar com o complexo de inferioridade dos outros: Primeiro, compaixão pelo esforço sofrido da pessoa. Segundo, tentar ser uma “plateia” que não julga, que acolhe o outro do jeito que ele é. Terceiro e mais importante: descobrir que o medo de se perder, de perder a identidade, é a origem mais forte desses complexos. "Como é que a liberdade foi obtida? Quando a mente, no decorrer das ações condicionadas, passou a focar o processo de prisão. Nesse exato momento começou a liberdade. Nesse exato momento começou a asfixia do carma. O carma precisa respirar e ser constantemente sustentado. Quando a mente passou a observar o processo, a sustentação foi suspensa. Asfixiado, o carma morre aos poucos." — Lama Padma Samten

quinta-feira, 26 de maio de 2016

O que você escolhe?

Como diz um professor:”o que você escolhe : ter razão ou ser feliz?” Penso que essa pergunta é uma boa companhia para a viagem da vida. Revendo as frases da musica do Osvaldo Montenegro “A lista”, um hino de reconhecimento da verdade da impermanência, que tudo muda, tudo está mudando, consigo imaginar que essa pergunta poderia ter facilitado muitas situações inquietantes. Ainda bem que muda, porque os finais são sempre o início das novidades. Lembrar da mudança permanente ajuda a não fazer drama, a não colorir demais nem as alegrias nem as tristezas – caminho do meio, o encontro com a serenidade. Mas essa pergunta teria facilitado muito fazer escolhas. Pra que serve nossos exageros? Pra que dar tanta importância aos fatos que todos vamos vivendo? Para que ter sempre razão e querer comprovar nossos argumentos? Talvez, melhor voar com leveza pela vida trazendo alegria às pessoas que vamos encontrando ou pelo menos, evitando prejudicar. A letra da musica dá para fazer um exercício interessante sobre nossa história e verificar o que realmente vale à pena? Amores, vaidades, segredos, sonhos, mentiras, gostos e desgostos....tudo muda, tudo passa, de nada adianta nossa tentativa de fixar. Onde foram parar nossas certezas? Qual o verdadeiro significado da vida? Qual o melhor caminho? Onde colocar energia? Valeu à pena tanto esforço para demonstrar que tinha razão? Chamo carinhosamente essa musica de a melô da impermanência: Faça uma lista de grandes amigos Quem você mais via há dez anos atrás Quantos você ainda vê todo dia Quantos você já não encontra mais _____ Faça uma lista dos sonhos que tinha Quantos você desistiu de sonhar! Quantos amores jurados pra sempre Quantos você conseguiu preservar... ______ Onde você ainda se reconhece Na foto passada ou no espelho de agora? Hoje é do jeito que achou que seria Quantos amigos você jogou fora? ________ Quantos mistérios que você sondava Quantos você conseguiu entender? Quantos segredos que você guardava Hoje são bobos ninguém quer saber? __________ Quantas mentiras você condenava? Quantas você teve que cometer? Quantos defeitos sanados com o tempo Eram o melhor que havia em você? ___________ Quantas canções que você não cantava Hoje assovia pra sobreviver? Quantas pessoas que você amava Hoje acredita que amam você? _______________

quinta-feira, 19 de maio de 2016

As vítimas da guerra de cada dia

Numa das colunas escritas por Luis Fernando Veríssimo, li a frase: “Numa guerra a primeira vítima é sempre a verdade; a segunda vítima é o senso do ridículo”. O escritor estava se referindo à cena política que vivemos no Brasil atualmente mas logo fiz analogia com momentos de guerra pessoal que vivi ou que assisti. Numa luta, ou qualquer briga, defendemos a nossa posição. Ou, estamos apegados as nossas crenças. Esse apego já foge da verdade porque é uma visão estreita. A verdade é uma visão ampla, livre, colorida. Na verdade não há luta; há a soma das posições, há busca, humildade, acordos e descobertas. A briga mata a verdade. E quando lutamos pela verdade dos outros? O que está oculto nos manipulando? A verdade organiza. Lembre das cenas que viveu e brigou? O que havia de verdade em tudo aquilo? Numa briga, apaixonados por uma posição, por um ponto de vista, no calor da discussão perdemos o senso do ridículo. E como perdemos!!!! Fica muito ridículo! Os gestos, as caretas, as palavras, os silêncios, os gritos... Assistir uma briga pelo lado de fora é assistir a um espetáculo grotesco de picadeiro . De longe o drama fica ridículo ou não ? O Dharma é a busca da verdade. Na verdade há paz. Na verdade há elegância. Na verdade há amizade. Por isso que há o habito de terminar nossos encontros repetindo: “Pelo poder da verdade, paz e alegria, agora e sempre”

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Respostas da filosofia budista

Assim foi o e-mail que enviei para uma aluna de enfermagem que precisa para trabalho de faculdade. Talvez traga alguma informação nova para você também, ou para passar de forma leiga para quem pergunta Luciana, *O que é a doença para o budismo? Estudamos a Filosofia Budista sob orientações de Mestres do Budismo Tibetano, de SS Dalai Lama e outros mestres autorizados por ele. Nessa tradição os estudos se aproximam mais da psicologia. Embora todos os estudos de qualquer linhagem de Budismo comecem pelas “4 Nobres Verdades” ensinadas por Sidarta Gautama o Buda histórico: A insatisfação ( sofrimento) faz parte da vida Existe uma causa para esse sofrimento É possível cessar essa causa Existe método para isso. Existem 3 tipos de sofrimentos: O sofrimento da mudança, a impermanência de tudo e todos O sofrimento das dores físicas e mentais O sofrimento que permeia a vida,: catástrofes, destruições, o imponderável – pessoais, sociais e do meio ambiente. A causa dos sofrimentos são principalmente, os 3 venenos mentais: Ignorância ( não compreender a realidade além das aparências) Apego ( desejos ilimitados) Aversão ( as raivas, o que queremos evitar fortemente) A ignorância é a “mãe” dos outros 2 venenos: Ignorância de não saber ou de saber com enganos Esses 3 padrões de comportamento geram 6 estados mentais confusos e doentios chamados delusões : Orgulho, culpa, vaidade, riqueza alienada do sofrimento alheio etc Inveja, competitividade exagerada, desconfiança, se sentir guerreiro o tempo todo etc Apego, ciúmes, desejo ilimitado etc Insatisfação, irritabilidade, depressão, sensação de rejeição etc Raiva, ódio, vingança, tristeza etc Preguiça, torpor, dependência, acomodação etc Os 6 estados mentais confusos carregam um tipo de medo. Qual o processo de cura? O que é feito para ajudar no processo de cura? Por que a pessoa adoece? O Budismo pensa as aparências são reflexos de processos mentais e as aparências atuam nos processos mentais, esse processo é chamado de Coemergência. Então na medicina do Budismo Tibetano sempre se busca entender os processos mentais que estão por trás das doenças físicas e mentais. O primeiro passo que os médicos fazem é tentar descobrir qual foi o susto que a pessoa teve antes da doença se manifestar. Para todo grande susto o corpo somatiza e, possivelmente, um medo é instalado. A partir esse medo a pessoa vai fazer escolhas para se defender, vai projetar esse medo nos outros e vai fazer escolhas que comprovem que esse medo é real –“ armar as armadilhas do sofrimento” O ciclo está feito.... Além de medicamentos, esses medos precisam ser tratados e o ciclo precisa ser demonstrado e desmascarado. Uma vez vencido o medo o processo de tratamento fica mais fácil. A doença física já é um alarme que emocionalmente, mentalmente as aflições não foram cuidadas a tempo. A medicina budista vai trabalhar também com os 5 elementos que origina tudo e a todos e seu potencial: Elemento éter – espaço físico e mental Elemento vento – movimento Elemento fogo – criatividade Elemento água – flexibilidade Elemento terra- equilíbrio Os processos mentais influem na produção e na distribuição – excesso ou diminuição - desses elementos pelo corpo e o reequilíbrio desses elementos é conseguido através de reconhecimento mental, alimentação, mudanças de atitudes e medicamentos. Como deveria ser o dia-a-dia de quem segue o budismo? Como todos sentimos medos reais e na maioria, imaginários todos precisamos nos tratar e encontrar atitudes mais confiantes. Esse é o caminho budista: Treinar a mente para atitudes mais positivas, mais livres, mais lúcidas, mais bondosas, mais generosas, mais alegres sem se alienar da realidade que é difícil para todos. O caminho do meio, o contentamento sereno, é a meta para viver melhor e também ser útil aos outros. Um truque: quando nos sentimos tensos, inquietos, angustiados, confusos, aflitos – perguntar “do que estou com medo” ajuda a retirar o desconforto e evitar que processos físicos piorem, que as relações fiquem mais tensas, que as escolhas sejam equivocadas. O caminho budista incentiva a busca pela verdade e trazer benefício aos seres, ou pelo menos, não trazer prejuízo. Costumamos afirmar a quem entra nos estudos: Abandone o ideal de perfeição Abandone as certezas absolutas Tudo está certo, mesmo quando não compreendemos. Reconhecer a morte, a impermanência, é inteligente porque tornamos todos os dias preciosos. Vamos tirar o poder do Ego de te fazer sentir ameaçado mais do que necessario. O que é o nirvana? É o estado oposto ao Samsara. Samsara é a visão desse ciclo aparentemente, interminável da vida nascer, viver, morrer e renascer em tudo e todos, uma vida repleta de incoerências, sofrimentos, injustiças; como não há lucidez e bondade suficientes esse sofrimento vai se reproduzindo pelo egoísmo. Nirvana é a visão altruísta, generosa, compassiva e lúcida da vida. Samsara e Nirvana são 2 lados da moeda que já existem, são uma escolha. Nossa mente primordial, original, é uma mente búdica; apenas estamos confusos e reféns de visões errôneas. Como se chega ao nirvana e se um praticante comum consegue alcança-lo. O caminho é um mergulho interno e silencioso para fazer “decantar” as impurezas : correrias, os impulsos automáticos,os pensamentos atribulados, aflições, culpas, vergonhas, ambições etc A mente é um lago , quando a água fica calma ela é capaz de refletir o brilho da lua com clareza. Por isso meditamos, pode ser focando na respiração, nos sons, numa imagem, numa parte do corpo – para treinar a mente ficar clara. Essa clareza, ativa o princípio ativo da vida promovendo lucidez, confiança, bondade e alegria. Meditar é fundamental no mínimo 8 minutos por dia. O melhor treinamento é aproveitar as situações do dia-a-dia para treinar paciência, generosidade, esforço constante, ética, concentração, sabedoria, bondade amorosa, compaixão, igualdade e alegria. TASHI DELEK , boa sorte em tibetano!

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Contentamento é uma boa direção

Vivemos momentos ou épocas de satisfação e outras de insatisfação. Na satisfação, a inquietação pode ser medo de perder essa condição. Na insatisfação, a inquietação pode ser aversão e expectativa por momentos melhores. Medo e expectativa: mães perfeitas do stress. Nos dois casos, uma corda bamba; e assim a vida vai: momentos de grande alegria e sucessos lá no pico, momentos de decepção e frustração lá embaixo. Um sobe e desce contínuo, as incoerências do Samsara diria o Budismo. Mas existe um terceiro lugar: o contentamento. O contentamento não é forte alegria, nem neutralidade; contentamento é cultivar um olhar de interesse pela situação, observando suas mudanças, tentando se tornar um detetive em busca da positividade da situação. Gosto da ideia de admitir que os momentos difíceis são resultados do que plantei e que, se estão se manifestando, também está sendo uma oportunidade dessa semente terminar seu ciclo. Pode ser complicado viver a dificuldade mas cada dia é um dia mais perto do final desse ciclo e o contentamento vem da curiosidade pelo que virá. Aí, a morte dessa semente vai abrir espaço para novidades. Depois dos finais chegam as novidades. Fico imaginando que o susto de cada dia é como uma casca ruim que vai soltando e se dissolvendo pelo caminho e a garantia de momentos melhores vai depender das intenções e ações solidarias do que se semeia a cada momento.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Armadilhas da compaixão

Na verdade se fosse realmente compaixão não criaria armadilhas. É que confundimos compaixão com pena, dó etc Na compaixão tentamos criar meios hábeis para tirar a pessoa de suas confusões e sofrimentos. A pessoa está num buraco e vamos buscar uma corda para puxa-la. Mas para isso não podemos nos deixar abalar pelo sofrimento de quem está aflito, é preciso manter a estabilidade; podemos ficar interessados, sensibilizados, mas é preciso um cuidado: a codependência. A culpa pelo sofrimento do outro é uma armadilha grave porque ao invés de resolver o problema cria ainda mais condições para que essa situação se agrave: o problema de uma pessoa se transforma num drama de duas. Se a corda for fraca, vai arrebentar e haverá outra queda; se formos menos pesados que quem caiu no buraco, seremos 2 dentro do buraco. Digo culpa, mas poderia ter dito , medo, vergonha, duvida, egoísmo, preconceito, raiva. Qualquer uma dessas aflições nos abala e perdemos o bom senso. Trazer um mendigo para dentro de casa, não vai resolver o problema dele; existem instituições mais adequadas. Acolher um irmão viciado em droga ou com problemas psiquiátricos, sem um apoio adequado, não vai tira-lo de sua “prisão”, vai criar um pequeno inferno perigoso em casa. Por outro lado, se nos deixamos abalar pelo sofrimento do outro, pagar de alguma forma para que ele fique longe, pode piorar a situação; quando esse pagamento terminar o problema estará muito maior, porque não teremos contribuído para a autonomia desse ser. A compaixão verdadeira está apoiada na razão não nos apegos. Claro que existem casos e casos, as coisas não são tão simples assim mas, se existe alguma chance de ajudar a pessoa a sair de sua confusão é agir segundo 4 ações: *não se deixar abalar pelo culpa, medo, vergonha, julgamento e raiva *pacificar a comunicação com bondade e contentamento *manter o interesse para descobrir o que realmente é necessário resgatar *agir com firmeza e determinação Mas....sempre se lembrando das palavras de SS Dalai Lama: “tanto quanto você possa” "Para manter a sabedoria, é necessário ter força interior. Sem desenvolvimento interior, às vezes podemos não conservar a autoconfiança e a coragem. Se perdemos essas coisas, a vida fica difícil. O impossível pode ser possível com força de vontade." — Dalai Lama

sexta-feira, 1 de abril de 2016

O que é generosidade mesmo?

Encontrei um DVD sobre os ensinamentos que SS Dalai Lama deu em 2006 em São PAulo; no capítulo sobre Compaixão ele reforça que sentir esse sentimento não é só sentir, é fazer algo para aliviar a aflição de quem sofre. Mas como ? tanta gente sofrendo suas dores....e aquelas que acreditam estar no caminho para felicidade e estão cavando seu próprio buraco...como ajudar? Essa é uma inquietação de quem se sente tocado pelas dificuldades dos outros; mas.... quais são os meios hábeis para ajudar realmente? Será que quero que o sofrimento do outro termine logo porque simplesmente isso me incomoda? Penso que aliviar o sofrimento do outro é aliviar a causa desse sofrimento, não apenas os efeitos. Mas isso é difícil até para nós mesmos. Mas só de pensar que é assim e dedicar esse olhar para quem sofre, ou se engana, ou está confuso já vai criar condições para que essa história possa se modificar. Olhar para uma pessoa que está sofrendo e acreditar que sua verdadeira natureza é livre e luminosa, que essa experiência difícil vai mudar, que TUDO muda, é essencial. Essencial porque será um olhar de não fixação. Mas enquanto o sofrimento ainda queima é possível oferecer o que está faltando, o que a pessoa está pedindo ( tanto quanto a gente possa) e aí o Budismo dá sugestões, as 4 generosidades: Generosidade de dar apoio material; dinheiro, comida, casa, trabalho etc Generosidade de proteger dos medos Generosidade de ensinar o que sabe Generosidade de acolher sem julgar Seguir junto sem expectativas e com interesse, também é útil. "Compreender o ponto onde as pessoas estão é que pode propiciar benefícios. Se elas têm fome, é preciso dar comida. Se estão com frio, é abrigo que vamos oferecer. Fazemos essas atividades específicas sem perder de vista o caminho como um todo e suas diversas etapas. Essa é a abordagem da cultura de paz." — Lama Padma Samten

quinta-feira, 24 de março de 2016

Exercitando a tolerância

Em tempos de crise um bom treinamento é aprender a tolerar. Crise pessoal, crise financeira, crise política, crise existencial. Tolerar não é concordar. Tolerar é parte do caminho da compaixão. Tolerar é dar um tempo para compreender como sair da situação. No budismo os Lamas ensinam que a gente sai de uma situação difícil descobrindo como nos metemos nela, qual foi a porta de entrada da armadilha. Comumente a armadilha é sedutora e nos deixamos seduzir, tampando os olhos para a cena total e para as consequências da escolha. Relações sedutoras, lucros imediatos, promessas milagrosas, fama, prazer, crenças românticas, alimentos miraculosos, soluções mágicas são armadilhas sedutoras e possivelmente rápidas / garantidas. Mas não são nada disso. Boas soluções pedem honestidade, lucidez, coragem, trabalho, solidariedade, determinação e paciência. Então paciência é a irmã mais velha da tolerância. O caminho para viver momentos de crise começa assim: *Pena – piedade pela confusão em que nos metemos ou que outra pessoa se meteu acreditando que ia encontrar a felicidade. E na sequência: *Tolerância – dar um tempo para esperar que as coisas se esclareçam e começar a pensar em soluções. *Paciência – tirar o stress, ou seja, não colocar datas limites, não colocar limite de tempo: “ vou esperar até tal dia , tal hora...” “não aguento mais” “....” *Compaixão – descobrir como se ajudar ou ajudar o outro a sair da crise a partir do mundo particular de cada um ( Sabedoria do Espelho) E aí....possivelmente surgirá o Amor Incondicional, sem julgamentos, sem preconceitos. "A verdadeira tolerância é a posição aberta que um indivíduo adota em face de um incidente particular ou em face de uma outra pessoa, quando esse mesmo indivíduo poderia agir de outro modo. Levando em consideração certos fatores, ele decide não reagir negativamente: essa é a verdadeira tolerância." Dalai Lama

quinta-feira, 17 de março de 2016

Sobre a naturalidade

(continuando a conversa pelo whatsapp com a sobrinha de 18 anos recém completados) Tia, o que é naturalidade? Como acho o que é natural em mim? Que não foi modificado por condicionamentos dos meus pais? Somos seres condicionados, não tem jeito; por nossa família, nossa cultura e os ambientes em que vivemos. Existem condicionamentos positivos e outros que precisamos tentar mudar. Nossa naturalidade são os comportamentos em que ficamos soltas, sem vergonhas, que os olhos brilham. Um truque para a gente se perceber é observar as pessoa que admiramos e temos como modelo.Na verdade o que vemos nos outros é nossa imagem espelhada, nossas qualidades e nossas limitações. Por outro lado,o que você vê no outro existe na tua mente. Quando você tem um comportamento que te deixa apertada e muito desconfortável, você deve estar querendo agradar. Entendi. Então o que me deixa feliz é naturalidade? É quando eu não tenho medo? Sim. Quando é uma felicidade serena; sentir medo é natural porque sabemos que somos mortais mas esses medos não podem paralisar e deixar covarde. Na verdade a gente deve desenvolver uma atitude de não ter medo de sentir medo. Vem o medo, a gente sorri para ele, dá o braço para ele e vai em frente. Ai tia! Você merece uma estátua! Treino isso todos os dias sem descanso porque se a gente facilita com os condicionamentos eles voltam com menos força, mas voltam. Outro dia vi uma proposta interessante: fazer um dia verde por mês, em silêncio, perto da natureza, sem smart phone, TV, computador, FB etc ..legal não?Estar na natureza, tentar vive-la nos fortalece porque é a vida vivendo serenamente, como nós. Ai tia! Achei o máximo! Quero tentar! "O ponto mais importante não é o conteúdo das experiências, mas o fato de que, presos em alguma delas, a tomamos como fixa, e também tomamos como fixa a visão de mundo que a acompanha. O aspecto mais profundo, que devemos focar com muito cuidado, é que há uma mobilidade sempre presente. Somos a natureza ampla que permite a mobilidade e as várias manifestações." — Lama Padma Samten

sábado, 12 de março de 2016

Mania de fazer drama

Continuando a conversa via whatsapp com a sobrinha de 18 anos recém completados: Tia, queria retornar nossa conversa de São Paulo sobre o convívio dramatizado da nossa família. Quero aprender melhor sobre isso. Vou pensar num comentário reduzido...rsrsrsrs Aeeee!obrigada. O drama vem de querer impressionar para ser valorizado: existem vários tipos de drama: exagerar, fazer um tipo. Ser bonzinho demais, mentir, criar mistério, explorar doenças, se fazer de coitadinho, sumir, fazer guerra de silêncio, disfarçar e todos os jogos psicológicos para que o outro faça nossa vontade. Assim...querer confundir e enganar o outro sobre a verdade para ter lucro ou se sentir querido. A origem desse comportamento ? _Complexo de inferioridade, fragilidade, falta de auto confiança. O comportamento positivo oposto é a naturalidade, apostar que a verdade é a única coisa que organiza a vida e as relações mesmo sendo um caminho as vezes, mais difícil. Mas... ser verdadeiro é diferente de ser grosseiro; nossas op8iniões são NOSSAS , todos tem direito a ter opiniões, gostos e hábitos diferentes. Bem...não foi tão reduzido assim. Que lindo tia, arrasou!!!!! Acho isso muito interessante porque é um campo que eu tenho que melhorar. Todos nós !!! com certeza! Tia, o que é a naturalidade? Como acho o que é ser natural em mim? Que não foi modificado por condicionamento dos meus pais? (talvez continue na próxima semana) "Por 12 anos, um dos maiores estudiosos e praticantes da Índia, Atisha, estudou muitos textos, coletâneas enormes de ensinamentos e comentários sobre a doutrina de Buda e as realizações dos grandes lamas. Depois de anos de estudo, chegou a conclusão de que, sem exceção, todos os métodos – e Buda ensinou 84 mil métodos – se resumiam em um ponto essencial: um coração puro. " — Chagdud Tulku Rinpoche

quinta-feira, 3 de março de 2016

O que é ralar o ego?

Tia, o que é ralar o ego? Assim, com essa pergunta começou meu dia pelo whatsapp; com a pergunta da sobrinha de 18 anos recém completados. _Vi (Vitória), só agora vi tua pergunta...ralar o ego é “ralar” a vaidade: achar que a gente é melhor que os outros, que merecia mais. A figura do ego na personalidade é aquilo que faz a gente se defender de forma exagerada: quando o ego faz a gente se sentir ameaçada vem a raiva, medos, vergonhas, solidão, preconceitos, dependências, vícios etc etc etc...o ego escraviza. As dificuldades da vida são uteis para “ralar o ego”, fazer ele virar pó, tirar o poder das ameaças e deixar apenas a cautela e a prudência. Quando o ego perde o poder nos sentimos livres mesmo com as dificuldades.Quanto mais a gente ganha auto confiança, auto valorização e autonomia, menos o ego faz a gente se sentir frágil. A gente deve buscar isso e ajudar os outros a se auto valorizar, ser independente e confiar em si mesmo. Entendi tia ! Achei o máximo: o objetivo da vida é “ralar o ego” ! Não é exatamente o objetivo da vida, é a condição humana. Penso que o objetivo da vida é a gente aprender a se sentir livre em todos os momentos, em todos os lugares, com todas as pessoas em qualquer situação. Aprendizado para toda a vida e ainda...sorrir. Tia você é a mais genial. Amo você! Menosssss, também te amo. Posso reproduzir nossa conversa num texto semanal? Hahahaaha lógico! É sério, tudo o que você fala, faz sentido para mim. Que bom ! é porque somos parecidas, viemos da mesma tribo.... É verdade, hahahahahaha! Aí, depois queria retomar nossa conversa de São Paulo sobre o convívio dramatizado da nossa família. (talvez continue na próxima semana) "Se estiver muito aflito e tudo parecer impossível, lembre que a própria experiência da roda da vida é construída e, portanto, não é imutável, está sujeita a impermanência. A liberação é possível." — Lama Padma Samten

quarta-feira, 2 de março de 2016

Novo Gompa em Santos

Na tradição budista a sala onde estudamos, meditamos e fazemos praticas é chamada Gompa. Claro que nosso Gompa em Santos não é exatamente grande mas é um Gompa. Não é um templo religioso, mesmo porque não temos um monge que o preside. Mas .....sempre temos Mestres autorizados que nos orientam! será mais um lugar sagrado para encontrar nossa verdadeira natureza livre. Estamos organizando e arrumando o espaço que fica numa linda casa, à beira de um dos floridos canais de Santos. Este novo espaço vai te receber com carinho e com muita vontade de encontrar alegria e lucidez. Coloque na tua agenda a inauguração que será dia 12, de março , sábado à tarde. Se tiver interesse em participar escreva para receber o endereço. Venha orar conosco pela paz interna e paz externa em todas as direções. Tashi Delek. Boa sorte!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Como pude esquecer????

Semana que passou comentei sobre as inúmeras mudanças por onde vamos vivendo. Recebi comentários com experiências semelhantes, com observações pontuais, com explicações amigas. Uma amiga afirma que sou eu mesma que permito que a vida me trate assim...pode ser. Mas na contagem esqueci de uma morada muito especial: Campos do Jordão. Por que será? Minha resposta? Porque nunca saio realmente de lá. Fui gerada em Campos do Jordão; não preciso exatamente de motivo para ir mas, com certeza, para lá vou sempre que a vida me assusta – o silêncio de suas montanhas, as cores, as pessoas, os cheiros, o céu...tudo me conforta. Lá nem sinto a falta da TV nem do celular, a paisagem é a melhor companhia. Quando passo pelo túnel da estrada sinto como estivesse entrando em Shangri-lá. Campos do Jordão é tão importante pra mim que depois da separação era o único lugar onde queria montar um novo lar...mas deu apenas por 6 meses; aí....toca descer a serra. Um dos presentes emocionantes que recebi foi a possibilidade durante vários anos falar em cursos que amigas da cidade montavam...momentos sagrados, guardados carinhosamente na memória. Até minhas cinzas pedi para que fossem jogadas em cima das montanhas da cidade. Penso que todos nós temos um lugar para onde queremos voltar nem que seja por pouco tempo; o lugar que nos inspira, nosso refugio inspirador, onde a nossa verdadeira natureza livre fica mais presente, onde os dramas se dissolvem, lugar em que nem a solidão assusta e os sorrisos aparecem para fazer companhia na viagem de volta. Onde fica teu lugar sagrado, teu refugio, nem que seja possível retornar só na lembrança? Onde é o lugar que deixa tua mente cristalina? "Imagine um copo com água turva que, pela decantação se torna cristalina. Com a prática contínua e gradual, a mente começa a clarear por si mesma e termina por revelar sua natureza pura e cristalina. Não é algo voltado a acumular méritos para o futuro. É a própria prática da iluminação." — Lama Padma Samten

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Mudanças, sempre as mudanças

Revendo a história relembro essa tendência a ser nômade desde que nasci; poucas vezes por escolhas conscientes, muitas vezes por não ter outra escolha. Mudanças provocadas pelos “sustos” da vida; vários bairros,varias cidades, vários países. Outro dia contei , foram 31 endereços divididos pelos 65 anos...., praticamente cada 2 anos....mas uma hora isso vai terminar.... Parece que é até um treino. Agora procurando o 11º lugar para acolher nosso grupo de estudos e pratica, revivo em grupo a mesma tendência nestes 15 anos em Santos. Pelo menos até agora, não mudamos de cidade, só de bairro. Quando passo essas contas isso causa espanto até cansaço. Tendência carmica???? Os povos antigos tibetanos eram nômades – monta, desmonta tendas, encontros e despedidas como se fosse natural viver assim. Poucas coisas, simplicidade, só o essencial. Desmontar, procurar, escolher, avaliar, remontar...recriar a história. Encontrar novos amigos, descobrir novas possibilidades. Fica sempre a curiosidade, sem drama, quando será o último endereço? "Podemos reduzir o apego contemplando a impermanência. É certo que o objeto ao qual estamos apegados, seja qual for, irá mudar ou se perder. Uma pessoa talvez morra ou vá embora, um amigo pode se tornar inimigo. Mesmo o nosso corpo, ao qual estamos apegados em grau máximo, desaparecerá um dia. Saber disso não só ajuda a diminuir o apego, como também nos proporciona maior apreciação das coisas que temos, enquanto as temos. " — Chagdud Tulku Rinpoche

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Criaturas de um dia

Aproveitei o descanso do final do ano para assistir programas sobre o Cosmos. Essa imensidão impressionante do Cosmos. E você, eu, todos e tudo boiando nesse Universo. Estrelas, super novas, hiper novas, asteroides, gelo, fogo, gases, gravidade, tempestades solares, épocas geladas, épocas secas, reino mineral, vegetal, animais imensos de 90 metros de altura se alimentando em arvores de 70 metros, desaparecendo tudo num estrondo há 65 milhões de anos e...ressurgindo com flores há outros tantos milhões de anos. Aí dá uma humildade..... Como ousamos ter preconceitos????? Ou imaginar que é possível ter certezas ou receitas ou modelos ideais. Que tonteria fazer drama!!!!! Coitado de mim!!! Coitado= aquele que sofreu o coito... Como se achar o centro das injustiças????? Para que nos deixamos ser facilmente magoáveis????? Sabe..quando tudo magoa? Nós, os facilmente magoáveis.... A gente .ouve algo, interpreta e sofre, sofre muiiiiito!!!! ( porque uma coisa é o que a gente ouve,outra, é o que o outro diz) Se culpa, pede desculpas, discursa...agride...eu com meus sofrimentos, o mundo que se lixe... Comportamento claro de quem quer ficar sozinho e tem dificuldade de admitir ou quer ser o centro das atenções. Uma coisa é certa: a pessoa está sofrendo, está triste e não sabe outra forma mais lúcida de sair desse lugar. Compaixão por ela, o melhor mesmo é se afastar sem tentar entender. Consigo perceber isso porque também já entrei por aí. Afinal como diz Irvim Yalom “somos todos criaturas de um dia, os que lembram e os que são lembrados. Tudo é efêmero.” Vamos fazer o melhor possível cada dia, sorrir, chorar, continuar e nos render aos mistérios da vida que insiste em viver. Além de.... meditar no espaço infinito.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Com quem posso contar?

Em algum tempo passado conversamos sobre ter o cuidado sobre para quem contar nossas intimidades. Da mesma forma penso ( porque experimentei) que quando a gente passa por algum problema de saúde, ou se alguém perto de nós está com problemas, ou se nossos filhos estão em dificuldades etc, é interessante procurar interlocutores que tenham passado e superado situações semelhantes. Só quem tem a experiência real sabe das dificuldades dos labirintos da vida, sabe como é sentir o desespero, as dores, os sustos, os medos, as armadilhas e pode sugerir saídas: A gente lamenta a morte dos pais com quem já os perdeu. Fala da doença do filho para pais que já viveram essa agonia. Fala da perda do emprego para quem já ficou sem trabalho e dependendo dos outros. Fala da dificuldade financeira para que já teve que “ comer pipoca de jantar” e hoje já sorri. Fala dos medos para que já brinca com os seus. Senão...é melhor conversar com o travesseiro; porque de drama já chegam os que nos acompanham. Em varias situações que vivi, escolhi pessoas “erradas”, ingênuas, que me puseram em mais confusão e insegurança além de todas as emoções perturbadoras que estava vivendo. Mesmo porque as diferentes falências que vão nos assombrando na vida nos relembram da falência final que é a morte. Lembro disso depois de ter lido na revista Época o artigo de Guilherme Filetti sobre a superação do câncer que viveu. Comenta ele: “O que mais ouvia era: já deu certo,já passou, não vai ser nada, não só para acalmar, mas para que o papo terminasse aí. Não é maldade. Nem todo mundo consegue lidar com a própria mortalidade,que a gente reconhece mas costuma ignorar. Quando precisar falar sobre o câncer, procure ex-pacientes. Como já consideram essa possibilidade da morte, as conversas são brutalmente honestas, sem espaço para o drama. O tom muda do “já passou” para o “você aguenta””

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Essência das preces budistas

A exemplo do resumo de preces budistas que fazemos na nossa Sanga de Santos nas “Praticas diárias” encontrei no Budismo Petrópolis algo semelhante. Confira em https://budismopetropolis.wordpress.com/preces/. Na verdade essas preces além de serem recitadas, é preciso , principalmente refletir sobre elas e mergulhar no silêncio para incorpora-las.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Acolhendo a inveja

Na nossa cultura inveja é a emoção perturbadora mais difícil de ser reconhecida publicamente e acolhida. Sentir inveja é uma emoção triste, muito triste, até deprimente. É a tristeza pela felicidade do outro. Dá até vergonha.... Como se responde à inveja? Com uma fofoca, com a desvalorização do objeto invejado, ou da situação invejada ou ignorando essa emoção. Sentir inveja é triste porque aponta para uma sensação de incompetência de quem inveja; porque quando não existe a sensação de incompetência, a gente admira, elogia e se alegra pela conquista do outro. E quando a gente se acredita invejado por outros? Será que é isso tudo mesmo? Ou é uma forma de se auto-valorizar, ou se defender? Inveja pega; será que pega mesmo? Ou a gente se torna vulnerável, inseguro e/ou não merecedor das conquistas e se deixa abater? Inveja é perniciosa porque envolve comparação, concorrência, insatisfação. Tipo assim: no dia de natal, sair para brincar com os presentes que ganhou e ver outras crianças que ganharam coisas que você queria mas teu papai Noel não pode trazer. Ou ver outras crianças olhando tristes para teu lindo presente. Aí crescemos e vamos pela vida repetindo essa tristeza. Adultos-crianças, lutando para ter tudo, para provar sua competência. A inveja é uma das filhas malucas da insatisfação, de olhar o que falta ao invés do que já se tem. O melhor mesmo é refletir em que situações sinto ou senti inveja; observar de fora dessa bolha da inveja, se estudar e, principalmente, se acolher, sorrir para essa resposta infantil, deixar passar e se divertir com o possível. Os aspectos difíceis que nos acompanham são o melhor momento pra treinarmos nos liberar, a inveja pode ser também uma Mestre. Quando tudo vai bem nosso esforço é menos. E sempre é bom lembrar: ninguém é invejoso, as pessoas “estão invejosas” – dê uma chance para a mudança. Nada é fixo, as situações apenas estão, tudo muda. "É mais fácil sermos aprisionados pelo sucesso que pela dor. É quando ganhamos os jogos que temos problemas. Quando tudo vai bem, fixamo-nos naquelas condições. Parece que encontramos algo." — Lama Padma Samten

sábado, 23 de janeiro de 2016

Além de se despedir dos doces sonhos

Além destas despedidas que não são muito simples encontrei outra "tarefa” no livro de Irvin Yalom , Criatura de um dia: desistir de um passado melhor. Naqueles momentos em que ficamos mergulhados nas lembranças “do passado que não foi”, das injustiças na infância, das traições, dos enganos etc....é bom lembrar da inutilidade de procurar ofensas, culpas, culpados e do que poderíamos ter ou não ter feito. É apenas mais um momento masoquista como se as frustrações e decepções agregassem valor à história da vida. Momentos pobres. Melhor reescrever um passado novo, acolhido pela compaixão e ternura que fizemos as escolhas possíveis. Existe um exercício que faço e sugiro nos cursos que, ao surgir na lembrança, nossos pequenos tiranos, pessoas que abalaram nossa autonomia e valor ou..., por quem nos deixamos ser abalados, repetir: “eu não te culpo ......(nome), por você não ter sido a pessoa que eu queria que você fosse pra mim.E eu me liberto para sorrir e deixar você sorrir.” Perdão e julgamento é uma forma estreita de operar na vida. Aliás, além de desistir de um passado melhor, uma boa receita para a alegria é desistir dos medos e das expectativas. Como se você fosse um céu amplo e observasse situações, expectativas e medos apenas como nuvens claras e escuras empurradas pelos ventos.