segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Vou-me embora pro Butão

Butão é um pequeno reino incrustado no Himalaia com o maior índice de felicidade do mundo, o FIB – felicidade interna bruta - você sabia? Esse reino longínquo integra os esforços para que o mundo adote índices menos materialistas e mais sustentáveis para avaliar o seu desenvolvimento. Esses índices estão no anexo abaixo, se quiser saber mais. Tudo isso porque assisti a palestra do filósofo francês Luc Ferre comentando sobre a necessidade de encontrar hoje um novo sagrado através da espiritualidade laica, espiritualidade não dependente de um credo religioso. Uma espiritualidade que brota do afeto da amizade, em que o sagrado é o outro humano. Hoje,na pós modernidade assistimos a transformação rápida dos modelos em que fomos criados –mudanças da educação, dos tipos do amor, dos trabalhos, da disciplina, dos valores, do envelhecimento etc é a sensação é de estar desbussolado, sem orientação. A necessidade de se reinventar frente a uma nova realidade regida pela informática, pelas informações instantâneas e principalmente pelo CONSUMISMO. Tudo, inclusive nós mesmos, se transformou num produto. E como toda a tendência forte, ela escraviza e tira a liberdade. Por que escraviza? Porque dá medo não poder consumir. Porque parece que estamos presos no consumismo: comprar, renovar, jogar fora, recomprar, novidades, comer e comer, comprar e comprar. Consumir para anestesiar os medos. Estamos numa cultura do medo;o único país do mundo onde todos precisam ter um advogado, saber o caminho do Procon e o endereço das Pequenas Causas, um tempo em que respeito é uma atitude em desuso. Um mundo onde tudo é perigoso, uma cultura que faz sentir medo de: andar na rua, comida de microondas, vírus, vacinas e doenças, envenenamento do meio ambiente, efeito estufa, roubos, perdas, pobreza, morte, remédios condenados, corrupção, de ser obrigado a passar o troféu para o inimigo, medo de sentir medo..... e, PRINCIPALMENTE, de ficar só. É por isso que dá vontade de dizer: vou-me embora pro Butão. Mas.........Butão só existe para os butaneses assim como Pasargada ( o poema está abaixo), só existe no coração de Manuel Bandeira. E eu....eu preciso que criar meu mundo de refugio. Parece que o único antídoto para esses medos é a amizade, não ter medo de se ligar a outros nos mais variados tipos de relação sem a idéia da posse e do lucro: comunidades, clubes, atividades culturais ou turísticas, ongs e outras associações em que o maior motivo seja estar junto.A sensação de colaboração com o projeto humanidade pode devolver uma certa liberdade. Aprender a conviver com generosidade de sentimentos, com ordem, com varios saberes diferentes, treinando sentir-se livre, se deixando afetar pelas dificuldades alheias e comemorando as conquistas. Como diz Lama Angarika Govinda no seu livro “O caminho das nuvens brancas”: Esta liberdade não consiste a poder fazer aquilo que se quer; não é obrigatória ou obstinada, nem a sede de aventuras, ao contrario, é a faculdade de aceitar com o espírito aberto o imprevisto, aquilo que não se entende de certas situações da vida, boas ou más, a faculdade de se adaptar a uma infinita variedade de condições sem perder a confiança na estreita semelhança do mundo interior com o mundo exterior. ________________________________________________ Vou-me Embora pra Pasárgada Manuel Bandeira Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconseqüente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d'água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcalóide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada. Entenda o FIB O conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB) nasceu em 1972, no Butão, elaborado pelo então rei Jigme Singye Wangchuck, com ajuda do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O FIB entende que o objetivo de uma sociedade não pode ficar restrito ao crescimento econômico, mas deve integrar finanças e qualidade de vida. Sua avaliação é feita em cima de nove dimensões. :: Bem-estar psicológico - Avalia o grau de satisfação e de otimismo que as pessoas têm em relação a sua própria vida. Os indicadores incluem taxas de emoções positivas e negativas, analisam a autoestima, sensação de competência, estresse e atividades espirituais. :: Saúde - Mede a eficácia das políticas de saúde. Usa critérios como autoavaliação dos serviços oferecidos, invalidez, padrões de comportamento arriscados, exercícios, sono, nutrição etc. :: Resiliência ecológica - Mede a percepção dos cidadãos quanto à qualidade da água, do ar, do solo e da biodiversidade. Os indicadores incluem acesso a áreas verdes, sistema de coleta de lixo etc. :: Governança - Avalia como a população enxerga o governo, a mídia, o judiciário, o sistema eleitoral e a segurança pública em termos de responsabilidade, honestidade e transparência. Também mede a cidadania e o envolvimento dos cidadãos com as decisões e processos políticos. :: Padrão de vida - Avalia a renda individual e familiar, a segurança financeira, a qualidade das habitações etc. :: Uso do tempo - Apura como as pessoas dividem seu tempo. Leva em conta as horas dedicadas ao lazer e socialização com amigos e família, além de tempo no trânsito, no trabalho, nas atividades educacionais etc. :: Vitalidade comunitária - Foca nos relacionamentos das pessoas dentro das suas comunidades. Examina o nível de confiança, a sensação de pertencimento, a vitalidade dos relacionamentos afetivos, a segurança em casa e na comunidade, além das práticas de doação e voluntariado. :: Educação - Leva em conta fatores como participação na educação formal e informal, envolvimento na educação dos filhos, valores em educação, ambiente etc. :: Cultura - Avalia as tradições locais, festivais, participação em eventos culturais, oportunidades das pessoas para desenvolver capacidades artísticas, além da discriminação por religião, raça ou gênero.

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