sexta-feira, 30 de maio de 2014

Sobre o perdão

"Ninguém e nada pode libertá-lo, apenas o seu próprio entendimento." Ajahn Chah Outro dia alguém perguntou qual a definição do Budismo para perdão; então vamos refletir juntos... Parto do princípio de que todo o sofrimento surge do apego ao eu (ego), da importância dada a uma identidade. Olho para a finalidade principal do caminho budista : a felicidade gerada pela liberação das fixações, dos apegos, dos desejos ilimitados e o despertar do olhar solidário. Qual seria o lucro do perdão? Se livrar de um peso, se libertar e seguir em frente. Então.... não perdoar e/ ou não se sentir perdoado é manter a escravidão, não permitir a felicidade nem de um nem de outro. – uma grande vingança!!! Existem 2 lados na atitude que é chamada de perdão, o lado de quem perdoa e o lado de quem quer ser perdoado. Do lado de quem perdoa parece existir uma atitude de superioridade do Ego que concede o perdão, como se fosse proprietário da liberdade do outro, ou dos outros, dono de um poder imaginário de ofendido, se sentindo um ser especial que não poderia ter sido magoado. Do outro lado está o ofensor, o coitado se desculpando, a vitima esmolando um perdão, colocando um poder imaginário em quem ofendeu... para conseguir seguir em frente, como se fosse mágico... Sem contar no ”perdoar-se” recoberto por uma grossa camada de culpa. Um dos conceitos mais difíceis para SS Dalai Lama entender quando começou seu contato com o ocidente foi o de culpa; comentava ele: “como é possível alguém não gostar de si mesmo????” Se nos enganamos é porque anda não aprendemos ou não conseguimos fazer, então por que se castigar com culpas e penalidades? Ainda mais... se pensamos que muitos valores e regras são culturais....e relativos a uma determinada época... Que jogo de manipulação!!!!! Culpados e inocentes. Não existem culpados e inocentes...todos somos responsáveis pelo que nos acontece e pelo que fazemos. Esse jogo de perdoador e perdoado parece um capítulo romântico de pais e filhos, patrão e empregado, senhor e escravo, superiores e inferiores. Melhor seria uma postura adulta responsável de assumir os efeitos das ações e resolver as tensões nas relações que possam acontecer voluntaria ou involuntariamente. Como lembra Lama Padma Samten: “uma possibilidade certamente perdedora é esperar que o outro vá fazer as coisas para que nossa Energia( impulso) se arrume;...o ponto central do nível sutil (movimento emocional) é fazer brotar a Energia lúcida e positiva de forma autônoma, gerar essa energia e irradia-la.” Num olhar budista em direção à pacificação das relações melhor seria a substituição da ideia do perdão pela atitude de arrependimento ao perceber que causamos algum prejuízo - uma ação, uma mudança real nas intenções e na motivação para beneficiar os seres: *reconhecer a ação desvirtuosa (“matar” a vida, roubar, agredir fisicamente, mentir, separar, agredir,fofocar, enganar, invejar e ser avarento) – ações que fazemos e imaginamos proteger nossa própria vida e interesses mesmo que machuquem outros seres. * perceber qual medo gerou a atitude egoísta e se arrepender por ter gerado sofrimento – SEM DRAMAS. * usar as Inteligências (Sabedorias) do nível sutil (compaixão = empatia +igualdade +capacidade de agir +lucidez +capacidade de liberar) para tentar não repetir o engano, procurar descobrir um comportamento mais sereno para o futuro. Tudo com delicadeza...porque a vida tem momentos difíceis para todos. E ...se não der, tentar outra vez...tanto quanto for possível, dentro dos limites de cada um.

Nenhum comentário:

Postar um comentário