quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Quando a gente não sabe, pergunta.

E isso é sinal de inteligência!!! Entre os Lamas, os Mestres Tibetanos, existe a tradição de pedir, pedir até varias vezes ensinamentos sobre o que queremos saber; talvez seja para demonstrar o interesse real. Quando estamos perdidos, perguntamos a saída ou o caminho. As preces são muitas vezes de gratidão. Outras vezes são para pedir proteção. Mas na sua maioria as preces são pedidos de respostas a algo que não conseguimos encontrar a solução sozinhos. Orar é um sinal de inteligência e, principalmente, de humildade. Existem varias formas de preces, a vários tipos de seres superiores. Mas todas vão na mesma direção; na direção da Energia Universal onde tudo é criado, essa Energia misteriosa para nossa mente comum. Somos todos (e tudo) filhos dessa Energia; e é a ela, a Energia Mãe, que nos dirigimos, quando rezamos. Como um filho perdido procurando por sua mãe. Nos ensinamentos é dito que ao morrer, quando conseguimos seguir com confiança a luminosidade, é o momento quando se fundem as luminosidades mãe e filho. Encontrei nesse texto abaixo de Elizabeth-MattisNamgyel, um bom tema de meditação e quero compartilhar com você: Nós suplicamos porque, na vida, geralmente não sabemos o que fazer. Rezar pode ser um jeito de nos entregar para o mistério e o movimento da vida. Expressa uma aceitação de que não sabemos de nada e nunca saberemos – que apenas enxergamos uma pequena parcela das coisas. Não enxergamos a teia infinita do relacionamento interconectado do qual fazemos parte. Ainda assim, por outro lado, temos nosso papel para desempenhar no todo, e tudo o que fazemos na vida é importante. Esse é um paradoxo interessante, não é? É preciso uma mente ampla para viver no coração desse paradoxo – estar alerta e receptivo, e ao mesmo tempo, aceitar a natureza indeterminada das coisas, os fatos que não sabemos. Esse é o espírito da oração. Podemos rezar por qualquer coisa. Mas para o que rezamos influencia na direção em que vamos e na natureza transformativa da prática. Rezar para a felicidade e para nos livrar do sofrimento nos mantém dentro dos limites da mente comum. As orações não têm a mesma agudeza e liberação quando estamos tentando evitar a vida e deixar de sentir o mundo em nossa volta. Se nos distanciamos do nosso desejo individual de sermos livres do sofrimento dentro do todo, onde reconhecemos que o sofrimento é parte da vida nesse corpo e nesse mundo, temos a experiência da profundidade da oração. Aceitar a beleza e a dor do nosso mundo é a fundação do caminho do Buda. Então o que significa rezar sem as limitações de nossas preferências individuais? Significa que estamos rezando para um despertar profundo e incondicional não baseado nas preferências do ego. Só em pedir nós experienciamos uma mente poderosa e humilde. Permitimos que a vida nos toque, e sentimos o desejo de seguir em frente com compaixão e amor. Quando rezamos, pode ser para uma imagem do Buda ou de nosso professor. Ou você pode rezar para a natureza de sua própria mente, como sendo inseparável da natureza da deidade. Às vezes você pode até não saber a quem direcionar suas orações, mas o pedido por si só tem seu próprio poder. De fato, se você pensar sobre isso, você realmente tem que saber de tudo? Você tem a capacidade de saber? A natureza do Buda, do professor, ou de qualquer coisa no mundo é insondável, misteriosa, e não se presta a ser conhecida de uma forma conclusiva. E é particularmente importante refletir sobre isso, porque no mundo moderno, rezar para um objeto pode parecer artificial. Podemos até querer acreditar em uma deidade ou no Buda, mas parece afetado. Um dos aspectos mais importantes e únicos dessa tradição é a compreensão de que nada possui uma existência intrínseca. Muitas vezes presumimos que nós – quem somos realmente – estamos rezamos para uma deidade imaginária. Mas na verdade, mesmo o que chamamos de “eu” surge de um complexo infinito de relacionamentos que ficam surgindo e caindo a cada momento. Tudo é imaginário, e nisso há a resistência à definição, tudo é dinâmico e aberto à interpretação – ou, em termos budistas, tudo é vazio. A oração é um meio que nos ajuda a seguir em frente com alguma sanidade – uma prática que nos ajuda a utilizar o mundo para despertar. Podemos rezar para nosso professor ou para o Buda como uma maneira de seguir em frente no nosso caminho. Não temos necessariamente que ver esse dualismo como um problema. Na verdade, enxergar o dualismo como um problema é dualista. O que chamamos de caminho é uma forma de navegar pelo dualismo utilizando positivamente nossa vida e experiências. Texto escrito por Elizabeth-MattisNamgyel, originalmente publicado na revista Buddhadharma Magazine edição de outono de 2014 e reproduzido no site da autora. Tradução de Rafaela Batista. Elizabeth Namgyel é uma das muitas mestras budistas norte-americanas contemporâneas (leia “A Face Feminina de Buda”), estuda e pratica o budismo por 30 anos sob a orientação de seu professor e marido, DzigarKöngtrulRinpoche.

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