“A meditação nos ensina literalmente a nos sentarmos com
todos esses estados, e através deles, de uma forma que progressivamente
fortaleça nossa capacidade de tolerar, regular e organizar nossas experiências
afetivas. Não há nada místico nesse aspecto da prática.
A primeira regra de uma prática de meditação sentada é
sentar-se imóvel. Isso significa sentar-se sem se mover inquieto, não ceder ao
desejo de coçar, não limpar o nariz que escorre, não mover um pé que adormeceu
ou está dolorido. É comum ver os iniciantes chegarem às raias do pânico só de
pensar em seguir essa regra básica, por medo de se sentirem aprisionados ou de
ficarem agitados por não poderem responder a esses sinais aversivos básicos. A
meditação oferece muitos desses desafios.
Não importa o que aconteça, não importa o sentimento
que surja, aprende-se a aceitar, observar e sentir.
Na função de mestra, Joko exigia de mim nada mais nada menos
do que honestidade emocional. Repetidas vezes ela enfatizou que praticar não
envolve tornar-se outra pessoa ou chegar a determinado estado, mas
estabelecer-se profundamente na realidade física e emocional do momento
presente.
Ela pedia aos alunos para ficarem atentos à coloração
emocional ou afetiva de cada momento. “Onde está esse sentimento no seu
corpo?”, perguntava ela. “Você sente uma tensão ou rigidez na garganta, no
pescoço ou no ventre quando se permite sentir inteiramente este momento?
Consegue sentir a resistência a estar totalmente presente que se manifesta
nessa tensão corporal?”
A prática para Joko significava aprender a sentar-se com a
resistência, identificar a resistência na forma de tensões corporais, para
sondar o histórico emocional dessas tensões, momento após momento. Quando nos
sentamos, em vez de tentarmos ficar calmos ou em paz ou aquietar a mente,
praticamos permanecendo em meio a todos os sentimentos que surgem. Não
obstante, sentar-se imóvel por períodos regulares todos os dias tem um efeito
estabilizador e centralizador.
Acompanhar a respiração e rotular os pensamentos cria um
“observador” interno estável que não é golpeado por emoções conflitantes nem
arrastado pelo fluxo da associação ou reflexão. O praticante de meditação se
torna cada vez mais capaz de interromper cadeias repetitivas ou obsessivas de
pensamentos e sentar-se, em absoluto silêncio interno, com a ansiedade ou
tensão corporal que em geral acompanha esses pensamentos. Nesse ponto, o
“observador” se dissolve na experiência de apenas sentar-se.
A principal dimensão estrutural da prática zen
consiste nessa capacidade crescente de tolerar estados afetivos antes
intoleráveis e evitados. Assim como a psicanálise, a prática zen é um contexto
relacional estruturado que visa expor, tolerar e enfrentar padrões de
experiência afetiva, incluindo afetos anteriormente reprimidos ou dissociados.” (Mente comum: um diálogo entre o zen budismo e
a psicanálise, Barry Magrid) http://www.centrobudista.com.br/como-meditar/
Nenhum comentário:
Postar um comentário