Ou... o fundo do poço, 333 andares abaixo da fartura....
Pediram para assistir ao filme “o Poço” e tentar ver alguma
ligação com os ensinamentos budistas.
Superando a estética agressiva do filme, vamos aos
comentários:
Um dos temas do Budismo é a Roda da Vida, uma tentativa de
explicar os desafios, perdas, dúvidas, acomodações e emoções aflitivas que
todos vivemos. Andamos por essa Roda visitando reinos, aflições,
obscurecimentos às vezes até num mesmo dia, através de nascimentos e renascimentos.
Isto é o Samsara.
Nessa Roda existem 4 círculos.
No terceiro círculo ficam colocados 6 reinos - 3 superiores, 3 inferiores - de desafios e
aprendizados:
Reinos dos “deuses” – do orgulho mas também da
possibilidade de compaixão
Reino dos guerreiros – da inveja mas também da
possibilidade do regozijo
Reino dos humanos – dos apegos ilimitados mas também da
amplidão das fronteiras
Reino dos animais – da acomodação mas também da
possibilidade do conhecimento
Reino dos infernos – das raivas mas também da
possibilidade da bondade amorosa
Reino dos fantasmas famintos – da avareza mas também da
possibilidade da generosidade
É neste último reino que percebo conexões entre o filme e o
Budismo.
Resumo
do filme: em um mundo distópico, existe uma instituição penal/educativa chamada
de O Poço. Em cada nível existem duas pessoas que são alimentadas por uma
plataforma/mesa que desce com comida. Os níveis superiores podem comer bem e, à
medida que a mesa desce, as celas inferiores recebem pouco ou nada.
O
filme trata de uma metáfora óbvia: a sociedade é desigual e os de cima não se
preocupam com os de baixo, é “comer ou ser comido”.
É o mesmo
tema do Reino dos fantasmas famintos:
lugar dos ciúmes, da avareza e da insatisfação onde os seres nunca se
saciam, estão permanentemente insatisfeitos, egoístas, pensando o tempo todo na
sua comida, na sua bebida, insaciáveis e sempre nos telhados sem conseguir “entrar
numa casa”. Seres de pescoço muito estreito e comprido, barriga bem grande
sempre vazia, com pernas e braços flácidos.
Mas os
Budas visitam todos os reinos e mesmo no reino dos espíritos famintos quando
reconhecidos e ouvidos, são despertadas sementes de generosidade, solidariedade
e acontece a liberação dos sofrimentos desse reino.
Em “alguns
momentos” visitamos esse reino.... mas lembrar de ser útil aos outros de alguma
forma – um sorriso, um telefonema, uma doação, uma visita - ajuda a escapar das
armadilhas de escuro lugar interno... egoísta e pobre.
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