quinta-feira, 15 de setembro de 2016

O silêncio dos suicidas

Setembro é tido agora como o mês amarelo numa sugestão de tirar o silêncio sobre o tema do suicídio. Suicídio é a morte pelas próprias mãos e isso assusta. Assusta porque essa situação lembra, ou parece lembrar, o fracasso da família e dos amigos. Tive essa história na família além de ter testemunhado de perto algumas outras histórias de suicídio e tentativas mal sucedidas; que tristeza....não conseguir ter sido útil para dar um significado para a vida dessas pessoas. Uma dessas experiências foi saber do suicídio de um praticante budista na altura das festas de final de ano. No Budismo se acredita que o caminho que a consciência – o continuum mental - segue depois da morte é a continuidade das sensações com que se morre. Na hipótese dessa ideia ser verdadeira, a solução do suicídio não seria a melhor solução, bem ao contrario. Perplexa, perguntei a Lama Michel a explicação do que leva um praticante da filosofia budista próximo aos Rinpoches cometer tal ato. Na sua resposta explicou que esse praticante embora parecesse praticar o Budismo não havia realmente corporificado a filosofia. Um dos treinamentos do Budismo é despertar a bodichita, a alegria por beneficiar outros seres. Suicidas estão sofrendo tanto trancados em suas bolhas de aflição que não conseguem fazer despertar essa alegria, olhar para outros seres e fazer a diferença onde vivem. O tabu do suicídio é “irmão” do tabu da morte; mas é preciso conversar sobre isso corajosamente. Não estamos treinados, nem os médicos estão, a dar importância aos sinais que apontam esse caminho. Antonio Geraldo da Silva, psiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria, comenta que 70% dos suicidas procuraram um profissional de saúde para tratar de alguma “doença” mas a doença da sua alma não foi diagnosticada – foram procurar ajuda, “avisaram” mas não foram ouvidas. Por que será que essas pessoas acreditam que só a morte será a melhor forma de escapar da dor da solidão, das decepções e auto-cobranças ? Onde será que a esperança morreu para elas? O que faz suas bolhas de aflições ser tão solidas que ele não consegue estoura-las? Claro que existem os transtornos de humor, os vícios, os estados mentais confusos que roubam a lucidez. Para isso existem medicamentos e acompanhamentos terapeuticos. Então ...esse mês é um alerta para conversar e perder o medo de falar sobre esse assunto. Aprender a ouvir as tendências suicidas, o quanto de auto-centramento existe nessa postura, o quanto de vingança talvez o suicídio carregue. OUVIR sem julgar é uma prática espiritual. Suicídio é também se tratar mal; observe como está cuidando da tua preciosa vida humana. Você está precisando conversar?

Nenhum comentário:

Postar um comentário