terça-feira, 17 de abril de 2012

Na janela com minha avó, eu "lia"....

Vivi minhas férias e feriados na infância e mocidade na casa de meus avós em Santos; os passeios eram nos diversos trajetos dos bondes, pelas igrejas, nos cinemas ; deles ainda me lembro dos odores, cores, sensações e descobertas a cada novo ano.

Mas havia mais um programa bem divertido: minha avó espanhola, não me lia histórias mas me levava para a janela, falava sobre os casarões e suas famílias ( que ainda existiam na av.Ana Costa, na av. Conselheiro Nebias e na orla da praia), os eventos luxuosos nos Cassinos e, na hora da saída dos cinemas, ela colocava um banquinho para eu subir, uma almofadinha vermelha no beiral da janela do apartamento para não machucar meus cotovelos e ia contando as histórias sobre as pessoas que passavam, relatava dramas, riquezas, mortes, amores, desamores, sucessos, fracassos e aí eu via a vida passar.

Há 50 anos ainda dava para conhecer a maioria das pessoas do bairro e da sociedade. Minha avó espanhola no seu portunhol contava as vidas com gentileza, sem criticas, sem fofocas, contava como um folhetim, como uma novela e em cada nova visita os novos capítulos.

Acredito até que, TALVEZ , dessa avó herdei o gosto cigano por jóias e o interesse por compreender a vida das pessoas e seus dramas.

50 anos passados, aprendendo com Budismo, descubro o benefício desse mesmo exercício, quando voltado para minha própria história.

Divirto-me me dividindo em duas:
Uma, a essência infinita da M Helena que observa do céu, com gentileza, a história de 61 anos da personagem finita M Helena neste planetinha. Como se fosse outra pessoa observando minha própria vida – SEM JULGAR, apenas coletando fatos, fotos, respostas e escolhas como uma repórter e fazendo assim com bondade:

_Hello Maria Helena, você está aí? O que você está sentindo nesse momento da história?o que você não estava percebendo nesse momento? Quais foram os sinais que você não notou?

Ser observador, por todos os lados das atitudes de você mesmo, obter uma consciência panorâmica, uma visão aérea de cada área, e de cada detalhe como diz Lama Chögyam Trungpa, observar como você faz as coisas oferece a compreensão do nosso caminho: como os fatos se entrelaçam e são, ao mesmo tempo, causas e resultados.

Essa atitude de observação, não é simplesmente uma mania de bisbilhotar, ela nos ensina a não repetir enganos ou repetir menos ou com menos gravidade e não se deixar enganar pelos impulsos e imaturidades.

Assim vou abrindo as cortinas das varias fases e descobrindo como a visão foi se transformando, como os medos foram mudando, como os sonhos foram sendo substituídos, como fui trocando de função.
Vou compreendendo, um pouco, porque as coisas foram aparecendo e desaparecendo e de que ferramentas fui me servindo.

E vou sentindo e acolhendo a vida passar em leves bolhas de sabão , chegando e partindo, inflando e estourando.

E vou tentando repetir com um sorriso: tudo está certo, mesmo que eu não entenda. Tudo está sendo solucionado. Tudo está passando.

Te convido também a brincar de observador de você, comece descrevendo sem interpretar o que está percebendo em cada fase, é bem divertido.

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